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    Quinta, 01 Dezembro 2022 21:07

    Documento oficial confirma origem do nome "São Gotardo"

    Escrito por José Eugênio Rocha
    São Gotardo de Hildesheim São Gotardo de Hildesheim

    Dando sequência à reportagem publicada na edição anterior, que indagava em sua manchete: Gotardo, o santo ou o Joaquim?”. Como veremos a seguir, um documento oficial encontrado nos arquivos oficiais na cidade de Ouro Preto, capital de Minas Gerais pelos idos do século XIX, revelam as verdadeiras origens do nome de nosso município.

    Há que se ressaltar que por mais de um século perpetuou-se, as custas do imaginário popular e de interpretações sem qualquer base documental, a origem do nome do município. Aqui e ali insinuava-se que o nome da cidade mantinha estreitas relações, na forma de homenagem e reconhecimento a um pretenso "fundador" da vila, instalada às margens do hoje denominado Córrego Confusão, Joaquim Gotardo de Lima. À primeira vista, a coincidência do homônimo justificaria a homenagem. Mas tudo não ia além de uma mera coincidência, como veremos a seguir.

    Como citamos na edição anterior, os dados registrados no histórico do município no site do IBGE, por exemplo, alude: "A vila de São Sebastião do Pouso Alegre teve seu topônimo mudado em 27 de agosto de 1885, para vila de São Gotardo, em memória de Joaquim Gotardo de Lima, considerado o fundador da cidade que, ao que parece, não viveu no lugar pelo resto de sua vida. Não se tem notícia de terem ficado, no município descendentes dele." De fato, como afirma o mesmo texto, a primeira família a se instalar por aqui foi os Valadares: " Nos primórdios do século XIX, Antônio Valadares e Domingos Pereira Caldas, saindo da região de Pitangui em busca de terras de cultura, fixaram-se às bordas da Mata da Corda. O primeiro estabeleceu-se próximo ao atual "Córrego Confusão" e o segundo aposseou-se de terras a quatro léguas de distância do primeiro, no lugar hoje denominado "Campos Domingos Pereira".

    A verdadeira história

    Reconstituindo os fatos, soa improcedente a versão que relaciona o nome do município à duvidosa figura de Joaquim Gotardo. Um documento oficial, publicado com exclusividade pelo Jornal Daqui em dezembro de 2017, confirma a seguinte versão oficial, também registrada nos anais de nossa história: No dia 27 de agosto de 1885 o padre-deputado Miguel Kerdole conseguiu alterar, no Congresso de Ouro Preto( Lei nº 3.300), o nome da então Vila de São Sebastião do Pouso Alegre para a denominação atual. O topônimo, como reza a Lei aprovada, foi inspirado no homônimo de um santo alemão, o Saint Gothhard – traduzindo: São Gotardo.

     

    O DOCUMENTO

    Não se pode afirmar com certeza, mas é possível supor que a estatueta do famoso santo alemão(Saint Gothhard) frequentava o oratório imperial, pois tinha como devota uma figura ilustre da monarquia, a esposa do primeiro imperador do Brasil. É presumível a suposição se levamos em conta que a esposa de D. Pedro I, a imperatriz Leopoldina, tem sua ascendência na Áustria, onde nasceu, cresceu e foi educada sob princípios católicos. Ela se origina, portanto, da mesma região onde nasceu e viveu Gothhard de Hildesheim(uma cidade alemã, próxima a fronteira com a Áustria), o santo que deu nome ao nosso município. Lá, naquela região dos Alpes são inúmeros os locais, como túneis e hotéis, que levam o nome do santo.

    A imperatriz Leopoldina é inclusive citada na carta endereçada ao padre-deputado Miguel Kerdole.

    A referida carta(foto abaixo) é confirmação cabal de que o nome de nossa cidade foi inicialmente sugerido pelo Capitão Mor Joaquim Domingos Pereira, que à época residia no vilarejo de Perobas, localizado em região próxima ao distrito de Vila Funchal. Ele fazia parte do corpo militar da Coroa imperial, sob comando direto de D. Pedro II, filho de Leopoldina.

    Este documento joga por terra qualquer relação entre Joaquim Gotardo de Lima e o nome de nosso município.

    O Fac-simile da carta histórica(foto) foi reproduzido( e registrado em catório) a partir do original encontrado nos arquivos do museu de Ouro Preto. Sua "descoberta" é fruto do esforço incansável do pesquisador e São Gotardense Humberto Pereira.

     

    Transcrição do conteúdo da Carta

    carta01

    Mariana, no dia 12 de janeiro do ano de 1884 de Nosso Senhor Jesus Cristo

    Meu grande amigo, sua benção, piedoso Padre Miguel Dias Kerdole.

    Como já nos falamos antes, eu em meus pensamentos íntimos e minha família estando em Perobas, sinto-me só. Tenho enorme vontade de me juntar aos meus. Mas meu imperador manda-me a conter em São Salvador, pois o nosso imperador, confiando em mim mais uma missão militar, estarei a frente de quatro guarnições. Preze por seu amigo e confidente.

    Eu venho a pedir ao senhor deputado provinciano das Minas Gerais, que o projeto de renomeação do povoado de São Sebastião do Pouso Allegre, deveria ser para homenagear a minha santa devoção de nossa benfeitora Imperatriz Leopoldina do Brasil para o nome de São Gotardo, nosso protetor diante de nosso todo poderoso e misericordioso Jesus Cristo, Como minha volta é indefinida, deixo este pedido onde toda minha família amada reside.

    Sem mais delongas, sua santíssima benção e espero que possa atender este pedido do sempre a postos servo de Nossa Majestade.

    Capitão Mor, Joaquim Domingos Pereira.

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