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    Segunda, 07 Março 2022 22:51

    SÃO GOTARDO - Um pouco de história

    Escrito por José Eugênio Rocha
    Cel. Frederico Duarte Coelho foi mentor, ao lado de outras lideranças políticas, da virada de mesa que culminou com a emancipação de São Gotardo. Cel. Frederico Duarte Coelho foi mentor, ao lado de outras lideranças políticas, da virada de mesa que culminou com a emancipação de São Gotardo. Foto: Reprodução.

    Os bastidores políticos da emancipação ou, a Guerra dos 3 anos

    Os capítulos que precedem a emancipação político/administrativa de São Gotardo estão recheados do mais acirrado, saboroso e inusitado embate entre as forças políticas de Rio Paranaíba e de seu, até então distrito, “Arraial do Confusão”.

    Refazendo os passos de nossa história, devidamente registrada, foi naquele distante ano de 1912 que a pitoresca saga da emancipação de São Gotardo teve início de fato - Até 1915, como se sabe, São Gotardo não passava da subalterna condição de um reles distrito de Rio Paranaíba. Tudo começou, portanto, em 1912, ano em que foram realizadas as eleições do novo parlamento da cidade de Rio Paranaíba. O surpreendente resultado do pleito, para surpresa geral, inverteu as engrenagens do poder em favor do distrito do “Arraial do Confusão”: ao eleger 5 dos 7 vereadores assume majoritariamente o controle da Câmara, o orgão máximo de poder na época.

    Controlar o Poder Legislativo do município-sede fazia parte de um secreto e audacioso plano, que só revelou suas reais intenções três anos mais tarde com a emancipação de São Gotardo, em 1915. Foi um plano muito bem arquitetado, fruto de uma formidável campanha estrategicamente conduzida por duas lideranças políticas da época, o Cel. Frederico Duarte Coelho e Pedro Bougleux . Além destes dois, mais três vereadores passaram a compor a “bancada de maioria do distrito do Confusão” no Parlamento de Rio Paranaíba.

    Assim narra o historiador rioparanaíbano José Resende Vargas* sobre este momento: “Assim verificada a eleição da maioria dos vereadores do distrito do Confusão, foi intensificado o acirramento dos ânimos entre as duas comunidades, pois São Gothardo(sic) estava receoso de não conseguir levar a transferência da sede para lá. Culminando a exaltação com ameaças e desavenças de ambos os lados”. Como veremos mais adiante este “receio de não conseguir levar a transferência da sede para lá(para aqui)” citado pelo historiador não se confirmou: Eles conseguiram sim, em um movimento ousado, transferir a sede do município de Rio Paranaíba para o distrito do Arraial do Confusão. Para efeito de comparação seria o equivalente, nos dias de hoje, a transferir a Câmara e a Prefeitura de São Gotardo para um de seus distritos.

    Consta nos anais da história que de posse do controle do Poder Legislativo de Rio Paranaíba os vereadores urdiram um meticuloso plano para transferir a sede para o distrito: “...portanto, Pedro Bougleux, com seu aliado político Frederico Coelho, combinam com os demais vereadores da Confusão, um esquema para transferir a sede do município, alegando entre outros motivos, falta de garantias para exercer o cargo em Rio Paranaíba” escreveu José Resende Vargas. Verossímil ou não, este argumento foi mais que suficiente para convencer o governador de Minas Gerais, Delfim Moreira, que em 1913 autorizou de pronto a transferência. Evidente que, o que pesou de fato na decisão do governador não foi tanto o argumento em si, mas sim o poder de persuasão e o peso de patente das lideranças políticas de São Gotardo. Atente o prezado leitor que esta transferência de sede não se tratava ainda de emancipação, mas apenas de um prenúncio dela.

    Falando em emancipação, Rio Paranaíba foi alçado à condição de município em 1911. Com apenas 2 anos de vida teve de experimentar o gosto amargo de uma derrota política, e que culminou, no desenrolar dos fatos, em um desfecho ainda mais indigesto: Em 16 de setembro de 1915 o então Governador de Minas Delfim Moreira assinou a Lei 662 criando oficialmente o novo município de São Gothardo(sic), retornando Rio Paranaíba à condição de distrito do novo município. Ele foi instalado oficialmente no dia 30 de setembro.

    Posteriormente a cidade vizinha foi novamente alçada à condição de município, mas os ressentimentos ficaram. Até os dias de hoje, um século depois desta contenda política, ainda persistem traços sutis de um certo ressentimento, manifesto aqui e ali. Um exemplo vívido desta animosidade - de tons beligerantes - é a eterna indefinição das linhas fronteiriças separando os dois municípios no entorno de Guarda dos Ferreiros e nascente do rio Abaeté. Ou alguém aí já se esqueceu daquela atitude nada gentil do prefeito de Rio Paranaíba que mandou instalar uma placa de boas vindas( ao município dele, claro)ali próximo à rotatória da Coopadap?ou ainda, da eterna disputa que divide o distrito de Guarda dos Ferreiros ao meio? Sim prezado leitor, um século não parece tempo suficiente para apagar certas marcas do passado.

    *José Resende Vargas é autor do livro Rio Paranaíba, história e estória de São Francisco das Chagas do Campo Grande

     

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