O ano de 2020 começou...
Se bem que, na verdade, como todo ano, só começará de fato depois do carnaval. Não tivemos, ainda bem, tragédias como aquelas que aconteceram no início do ano passado, em Brumadinho e no campo de treinamento do Flamengo no Rio de Janeiro, mas a chuva já deixou sua marca.
Como todo início de ano, e isso se repete desde sempre, as chuvas trouxeram medo, angústias, dores e mesmo mortes. Nada é feito diante dessa tragédia anunciada. Afinal, até as pedras sabem que as chuvas provocam estragos nos finais e inicios de ano, mas nada, absolutamente nada é feito.
Há uma total incapacidade dos Estados e municípios em realizar obras que poderiam, talvez, reduzir as consequências dessas chuvas. As razões para essa incapacidade são várias: falta de vontade política (afinal, alguém disse no passado que cano de esgoto debaixo da terra não traz votos...), falta de recursos financeiros por parte dos Estados e principalmente dos municípios, falta de educação por parte dos moradores das regiões atingidas pelas enchentes que, mesmo sabendo das consequências funestas, continuam jogando lixo nos córregos, nos rios, nas ruas. Falo de lixo, mas é comum nos depararmos com sofás, geladeiras, fogões, cadeiras, nas beiradas dos córregos.
Além do mais, o excesso de asfalto nas cidades impede a absorção das águas de chuva e todo mundo sabe que a água tem que ir para algum lugar. Tem que escorrer. Agora, se as bocas de lobo estão entupidas de lixo, essa água tem que ir para algum lugar. Vai para onde então? Para dentro das casas, lojas, levam os carros e, infelizmente, as pessoas. A verdadeira crônica de uma tragédia anunciada.
No que se trata da falta de recursos financeiros dos municípios, fato que impede que obras que são necessárias para conter a força dessas águas, teremos que discutir a questão do federalismo no Brasil e a forma como os recursos tributários são arrecadas e distribuídos.
Nesse ano de 2020, tudo indica que o governo federal irá concentrar suas forças na aprovação da reforma tributária. Já foram aprovadas a reforma trabalhista, previdenciária e agora restam as reformas administrativas e tributária. Dá até medo do que vem aí...
Iremos discutir essa questão da reforma tributária mais na frente, mas uma característica da atual estrutura tributária no Brasil é a forte concentração dos recursos tributários nas mãos do governo federal fato esse que gera uma forte limitação da capacidade de arrecadação e gastos dos Estados e principalmente dos municípios e uma das muitas necessidades que devem ser supridas por uma reforma tributária seria exatamente dotar os municípios de maior capacidade arrecadatória e decisões de gasto. Isso não implica, deixo claro aqui, que novos impostos devem ser criados e que teríamos sim que rediscutir a forma como o pacto federativo está ordenado no Brasil.
Além desses problemas gerados pelas chuvas, que se repetem, o ano começou do jeito que terminou, ou seja, aumentando a lista do nosso festival de besteira, se bem que nesse caso não é somente uma besteira e sim algo bastante preocupante.
O hoje ex-secretário da Cultura colocou no ar um vídeo onde ele anunciava algumas políticas de incentivo à cultura nacional. Não vem ao caso aqui explicitarmos essa política e sim como foi feito esse anúncio.
Infelizmente, foi algo bastante assustador em pleno século XXI. O vídeo fazia ligações explícitas às políticas nacionalistas do Terceiro Reich, ou seja, políticas nazistas. O texto lido pelo secretário foi um plágio mal feito de um discurso feito na Alemanha pelo ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels.
Não podemos permitir que, no Brasil, em pleno século XXI, isso aconteça. O nazismo alemão foi uma das páginas mais aterradoras da civilização humana. A barbárie e a crueldade levadas a cabo na Alemanha no século passado não podem e não devem, e digo isso de forma categórica, voltar a nos assombrar, nem que seja por brincadeira (de muito mal gosto) ou de forma não intencional (essa foi a desculpa dada pelo secretário da cultura que, felizmente, ninguém acreditou). Ainda bem que esse indivíduo foi exonerado.
A sociedade brasileira não pode admitir fatos como esse.
Nós, brasileiros, temos que discutir ao longo desse ano, uma série de problemas que são gravíssimos. O desemprego, a baixa atividade econômica, a violência, a questão da educação, saúde, saneamento básico, o abandono sofrido pelos brasileiros na sua condição básica de sobrevivência. O tão anunciado crescimento econômico do final do ano passado, tão festejado pela mídia, não se verifica. A renda do trabalhador está declinando rapidamente, o mercado de trabalho se precariza também rapidamente.
São muito os problemas, enfim e queremos ver implantadas políticas capazes de equacioná-los e não podemos, sob hipótese alguma, admitir que essa barbárie nazista se torne um discurso aceitável no Brasil
De forma alguma!!!!
Começamos um novo ano.
Depois das festas, onde todos nós nos congratulamos, desejamos uns aos outros um ano novo repleto de paz, felicidades, saúde, corro o risco de parecer um desmancha-prazeres, alguém que deseja sempre o pior.
Por que?
O que nos espera 2020 afinal? É claro que desejo a todos nós muita paz e muita saúde, mas, pensando em termos de sociedade, de economia, pensando em termos macro, não vejo muitos motivos para nos alegrarmos.
Começamos o ano de 2020 como terminamos 2019, ou seja, assustados com o Festival de Besteira que Assola o País, nosso FEBEAPÁ, que devemos tanto a Stanislaw Ponte Preta, heteronômio de Sérgio Porto.
Terminamos o ano escutando do presidente da FUNARTE (Fundação Nacional das Artes) que o rock se associa ao satanismo, estimula o aborto e que um famoso grupo de rock dos anos 60 fez parte de um movimento amplo de implantação do socialismo no mundo sob o apoio irrestrito da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviética.
É um direito que ele tem de não gostar de rock, assim como não gosto de alguns gêneros musicais, mas não associo essa atual sofrência que escutamos a nenhum tipo de raciocínio demente.
Voltamos aos anos 40 e 50 quando do surgimento do rock que afetou significativamente o padrão cultural do mundo?
Muitos podem questionar que basta ignorar a fala desse cidadão, mas não é bem assim. Ele preside uma fundação cujo propósito é estimular as artes no Brasil e, portanto, devemos nos preocupar com quais estímulos às artes serão desenvolvidos em um contexto como esse.
Mais uma pérola para nosso FEBEAPÁ. O atual presidente da Fundação Palmares, fundação essa criada para a preservação da cultura negra, afirmou recentemente que não há racismo real no Brasil e que, "a negrada daqui reclama porque é imbecil". Afirmou também que a escravidão foi benéfica aos descendentes dos escravos porque deu a eles melhores condições de vida do que se ainda vivessem na África além de outras coisas. Ah, para que fique bem entendido o sentido disso tudo, essa pessoa é negra.
É tão absurdo tudo isso que deixa de ser somente uma besteira e se torna um crime e ainda bem que a justiça impediu a nomeação dessa pessoa.
O que mais nos espera nesse ano que está começando?
Em termos econômicos, também não vejo nenhum motivo para ficar animado. Apesar dos últimos números do IBGE, que mostrou um crescimento do PIB no trimestre que terminou em setembro, não é possível afirmar que esse crescimento ínfimo do PIB (0,6%) seja permanente e sim somente conjuntural diante da liberação de recursos do FGTS e da sazonalidade já tradicional do final de ano.
Esse pequeno crescimento foi puxado pelo setor agrícola e farmacêutico. No entanto, quando olhamos para os números da indústria de transformação, veremos que houve uma queda de 1% na sua atividade. Diante da característica dessa indústria em produzir produtos mais intensivos em tecnologia e diante da sua forte interligação com outros setores, não há como afirmar que esse crescimento se sustentará. E além do mais, o IBGE reconheceu um erro na apuração dos dados referentes às exportações. Errou para cima o que significa que essa variação do PIB poderá ser menor.
Por sua vez, o mercado de trabalho continua paralisado.
De acordo com o IBGE, o crescimento do emprego foi, estatisticamente, insignificante. Apenas 0,1%. O número de desempregados atinge o valor de 12 milhões de pessoas. Se somarmos a esse número, a quantidade de pessoas que vivem de "bico", a quantidade de pessoas chamadas de "desalentadas", ou seja, que perderam a esperança de voltarem ao mercado de trabalho, teremos um resultado próximo de 43 milhões de pessoas. É assustador!
Além disso, o rendimento médio do trabalhador caiu 1% se compararmos com outubro de 2018.
A reforma trabalhista não só não gerou novos empregos como estimulou a rápida precarização do mercado de trabalho. Aumenta rapidamente o número de trabalhadores autônomos, por conta própria, sem carteira assinada, fora de qualquer política de proteção social e considerando a "carteira de trabalho verde e amarela", a tendência de precarização tenderá a aumentar e tenderá a cair ainda mais o rendimento médio do trabalhador.
A lógica é simples: sem renda, não há consumo. Sem consumo não há vendas. Sem vendas não há emprego. Sem emprego não há renda. Sem renda não há consumo...
E sem governo não há crescimento econômico. Não existe, na história econômica mundial, recente ou não, nenhum caso de crescimento econômico de algum país que tenha sido puxado pela iniciativa privada. O Estado deve, e isso nos mostra a história, puxar o crescimento apesar de todo o discurso ideológico da ineficiência do Estado. E o Estado brasileiro vem perdendo sistematicamente sua capacidade de intervenção na atividade econômica.
Apesar de tudo, desejo a todos um ótimo ano de 2020 e desejo a mim mesmo que eu esteja errado.
Um escritor estadunidense, Washington Irving, nascido em 1783 e falecido em 1859, escreveu um pequeno conto chamado Rip Van Winkle que, mesmo se tratando de um outro país e de uma outra realidade, expressa bem o que vem acontecendo em nosso Brasil.
Vou explicar melhor.
Rip Van Winkle, o personagem que dá nome ao conto, era um caçador que vivia no Estado de Nova York, às margens do rio Hudson. Rip, casado e com dois filhos, vivia em atritos com sua mulher já que não gostava muito de trabalhar e por isso sua esposa vivia criticando, reclamando que tinha que fazer tudo sozinho, que o marido não a ajudava a cuidar da casa, dos filhos, não queria saber de trabalhar e por aí vai...
Um belo dia a discussão tinha sido muito forte e Rip, chateado, saiu de casa e foi para uma taverna chamada Rei George III.
Um detalhe: na época na qual o conto se inicia, os Estados Unidos ainda eram uma colônia britânica e servos do Rei George III.
Continuando a história, já no bar, a esposa de Rip continua a reclamar e, por causa disso, Rip vai embora com seu cachorro, sobe uma montanha e chegando lá em cima, cansado, deitou ao pé de uma árvore e dormiu.
Quando acorda no dia seguinte começa a achar tudo bem estranho à sua volta. O mato estava mais crescido, sua arma, nova quando ele subiu a montanha, estava velha e estragada, sua roupa rasgada e sua barba bem mais longa e grisalha. Seu cachorro havia sumido.
Ele desce a montanha e vai para sua vila e lá descobre que tudo havia mudado. As pessoas eram diferentes, sua família havia desaparecido e sua casa estava abandonada e totalmente deteriorada. Triste, vai caminhando em direção à taverna que havia mudado de nome. Lá dentro, não conheceu ninguém e ao ser tomado como louco, acaba descobrindo que havia dormido não uma noite só, mas por 20 anos.
Os Estados Unidos já haviam se tornado independentes da Inglaterra, seus amigos mortos, seus filhos crescidos e já casados e sua esposa havia também falecido.
Essa história de Rip Van Winkle passou a representar uma pessoa que, permanecendo a mesma, passa a viver em dois períodos de tempo distintos, vivendo uma mudança social. Dormiu súdito de rei da Inglaterra e acordou em um país republicano, envolvido em eleições, democracia, direitos civis, etc.
Agora a pergunta: o que tem a ver essa história com a nossa realidade?
Seria como uma pessoa que, dormindo por 20 anos, tenha acordado em um Brasil diferente, totalmente mudado, mas, infelizmente mudado para pior. Dormimos e acordamos em um país que está voltando no tempo e não avançando.
O país que o dorminhoco se depara é um país onde as pessoas perderam o pudor de se manifestarem publicamente como racistas, agredindo violentamente pessoas de etnias diferentes. Um mundo onde crianças são assassinadas por balas perdidas sem que isso cause uma comoção, simplesmente virando uma notícia no pé de página de um jornal.
Um mundo no qual as pessoas estão perdendo seus direitos civis, seus direitos trabalhistas, onde não há emprego para todo mundo, um mundo no qual pessoas acham que vacinas são prejudiciais à saúde, que a terra é plana, que peixes são inteligentes e capazes de se desviarem de óleo derramado no mar, que existe uma obrigatoriedade de meninas usarem roupa cor de rosa e que os meninos devem usar sempre azul e um presidente que usa e abusa de palavras chulas e que toma decisões que serão anuladas no dia seguinte.
Um mundo no qual um representante eleito defende publicamente o retorno da ditadura com todo o mal que causou na nossa sociedade e acredita que basta pedir desculpas que tudo voltará à normalidade.
Um mundo onde o fundamentalismo religioso se torna a tônica para a discussão política sem que as pessoas não percebam, e que a história mundial já nos mostrou muito bem, que não é aconselhável que as duas coisas se misturem.
Pés de goiaba, canetas azuis, peixes inteligentes, racismo, intolerância, violência, sofrência, golden shower...
Como Rip Van Winkle, podemos nos fazer uma pergunta: o que aconteceu? Para onde foi o meu mundo?
Recentemente ouvi no rádio um boletim informativo emitido pela CNI – Confederação Nacional da Indústria – que dizia de uma forma positiva que o custo da força de trabalho tinha sofrido uma redução de 16% e que, portanto, o custo de produção da indústria teria apresentado uma redução. O resultado disso, de acordo com a opinião da CNI, era que poderia gerar um novo momento de crescimento do investimento.
Até esse ponto não está mostrando nada de novo.
A questão que gostaria de levantar é a maneira como uma informação pode ser trabalhada. Pensar que uma redução de 16% no custo da força de trabalho é um sinal positivo para a atividade empresarial já que isso reflete uma redução de custo? Como sempre, não uma resposta simples, ou seja, a resposta seria sim e não!
Vamos por partes. Se a resposta é sim implica dizer que, uma redução nos custos de produção, considerando a estrutura concentrada da indústria brasileira, ou seja, os preços não sofrem uma redução com a diminuição dos custos, aumentará a margem de ganho do industrial. Daí se entende a maneira tão auspiciosa como a notícia foi anunciada no rádio.
Agora a outra parte. Se a resposta é não, uma redução no custo da mão de obra significa que o salário, que é a renda do trabalhador está em queda. Salário em queda, por sua vez, implica em menor demanda. Menor demanda, menores vendas. Assim, a expectativa de maior ganho, dado que o custo foi menor, não se efetiva. Torna uma vitória de Pirro.
Mas, (sempre existe um mas...) alguém poderia argumentar que, conforme nos diz os dados do CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho e Emprego – no mês de setembro a economia brasileira gerou um saldo positivo de 157 mil novos empregos e que podemos nos alegrar já que a economia está se recuperando.
Na verdade, tudo gira em torno da forma como interpretamos a realidade que nos cerca.
Esse saldo positivo de novos empregos em setembro representa um crescimento de 0,4% no emprego. Sem querer sem desmancha prazer, ainda não é possível afirmar que esteja ocorrendo uma recuperação na atividade econômica ainda mais que, conforme notícia recente, o FMI – Fundo Monetário Internacional – prevê que o Brasil somente conseguirá se recuperar economicamente a partir de 2024. Está perto e ao mesmo tempo está muito longe. É perto talvez para alguém do governo, mas extremamente longe para quem está desempregado.
Já que estamos falando do CAGED, vamos ver o que está acontecendo em São Gotardo. Quando olhamos os números para setembro o que vemos não é animador e não permite ter o mesmo otimismo que alguns setores da imprensa e de representantes da indústria e governo.
Em setembro houve uma perda líquida de empregos na nossa cidade. Foram gerados 473 novos empregos enquanto foram fechados 748 postos de trabalho, ou seja, uma redução de 275 empregos, que representa uma variação de -3,33%. Agora, o que mais preocupa é que o setor agropecuário, atividade predominante aqui, foi o que mais demitiu, apresentando uma queda de 8,23% no emprego. Também a construção civil, setor que normalmente absorve muito trabalho, apresentou uma variação de -4,21%. Os demais setores apresentaram variações pífias.
Nos doze últimos meses, a variação acumulada foi de -2,68%. Preocupante.
O fato é que ainda é cedo para fazer qualquer afirmativa sobre a recuperação da economia. Não é possível acreditar piamente em algumas notícias que lemos ou escutamos. É possível que seja uma recuperação, apesar de muito, mas muito, tímida. Afinal, se a taxa de desemprego está por volta de 12% da força de trabalho, uma variação positiva de 0,40% não faz muita marola não.
Mas (aqui está o "mas" novamente...) pode ser um crescimento meramente conjuntural. Afinal, no segundo semestre sempre há uma tendência de crescimento no emprego. Temos o dia das crianças e quanto mais próximo do final do ano, maior o estímulo para a contratação temporária de trabalhadores se pensarmos no natal.
Uma coisa é certa e já vem sendo certa há algum tempo, infelizmente. Não há nenhum esforço por parte do governo federal em estimular o crescimento do emprego. Não está sendo feito nada a esse respeito a não ser esperar que a iniciativa privada faça alguma coisa. Já a iniciativa privada, o famoso mercado, está esperando o governo fazer alguma coisa. Fica parecendo briga de criança...vai você!! Não, vai você!!!!
É desse jeito: vamos deixar do jeito que está para ver como que fica...
O medo é perceber que 2020 já tenha terminado muito antes de começar. Será que não dá pra ir direto pra 2024 não???
Chega um momento da vida em que se costuma cair na rotina.
Não sei se é uma boa situação ou não é. Por um lado, se pode pensar em uma vida sem sobressaltos, sem sustos, onde prevalece a máxima de uma música que diz que devemos deixar a vida nos levar. Cairemos, dessa forma, em um ciclo virtuoso de uma vida que não se modifica.
Porém, por outro lado, podemos perder a capacidade de modificar a vida, de criar alternativas para nós mesmos. A rotina pode nos prender em um círculo vicioso do qual teremos dificuldades em sair.
Por que estou falando isso? As razões são simples e ao mesmo tempo preocupantes.
Temos que sair da rotina. Nosso tão combalido país precisa ser revigorado. Precisamos tomar um choque de realidade e perceber que temos muito o que fazer para andarmos novamente em direção ao crescimento e mesmo em direção a um desenvolvimento social.
Não podemos mais ficar parados, presos em uma discussão que se mostra cada vez mais infrutífera.
Estamos, cada vez mais, nos afundando em uma ideologia que a história já mostrou que é falha, que é insuficiente para colocar o Brasil em uma nova etapa de crescimento econômico.
A ideologia liberal, ou liberalismo, como é comumente chamada, assumiu o papel de discurso ideológico preponderante na sociedade brasileira. Em termos de questões econômicas, o liberalismo apregoa aos quatro ventos a virtude da iniciativa privada em detrimento da ineficiência do Estado como indutor e mantenedor do crescimento econômico.
"Devemos reduzir o tamanho do Estado", gritam uns. "Devemos retirar as amarras que limitam as ações do empresário", berram outros. Outros mais exaltados gritam "criamos um monstro" se referindo ao Estado. E por aí vai...
Podemos fazer algumas perguntas simples a esses tão exaltados. Primeiro. Considerando a atual elevada taxa de desemprego que faz com que a oferta de trabalho (os trabalhadores) se torne maior que a demanda por trabalho (os empresários) e, como nos ensina a economia liberal, o preço desse produto, o trabalho, tende a se reduzir como de fato está acontecendo.
Hora, se o salário está em queda e seguindo a lógica liberal, porque os empresários não seguem essa cartilha e demandam mais trabalho? Afinal, trabalho é um custo e um custo menor implica um estímulo para produzir mais. No entanto, quando olhamos a taxa de desemprego iremos perceber que isso não está acontecendo.
Os exaltados então gritariam: " o Estado atrapalha cobrando impostos". Outros, mais radicais gritam: "imposto é roubo". "Temos que reduzir o Estado e reduzir os impostos", berram outros. No entanto, esquecem que nossa estrutura tributária é altamente regressiva e que incide basicamente sobre a renda e o consumo e proporcionalmente menos sobre a produção.
Ainda insistindo gritam mais alto: "O Estado cria amarras para as contratações de mão de obra." "Temos que reduzir o custo das contratações", dizem outros. Mas em 2016 foi aprovada a reforma trabalhista que fez exatamente isso e não foram gerados novos empregos. Aqui escutamos grilos estridulando (santo Google...) e vemos um monte de gente fazendo cara de paisagem.
"O Estado", insistem, "tira as oportunidades de novos negócios e, portanto, temos que privatizar". "Porque o Estado tem que produzir se é ineficiente?" Gritam alguns. A história recente do nosso país, com as privatizações que ocorreram no passado mostraram somente que o preço dos serviços privatizados aumentou e a qualidade cresceu igual rabo de cavalo. Se não concordam com isso, olhem para a fatura do serviço de celular e pensem no tanto que é difícil conseguir sinal em alguns lugares da cidade.
A questão básica é simples. Para tirarmos a economia da crise atual é necessário um impulso inicial e esse impulso chama-se investimento público. A história econômica mundial nos mostra a importância do investimento público como indutor do crescimento. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e principalmente a China, são exemplos claros do esforço do Estado como fator do crescimento econômico.
O discurso liberal em voga no Brasil funciona mais ou menos assim. "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço." Isso implica dizer que estamos caminhando rapidamente para nos tornarmos não uma Venezuela como dizem os críticos, mas uma Argentina onde o principal problema deixou de ser o emprego e passou a ser a fome. É chocante ver que um país que já apresentou no passado uma qualidade de vida próxima dos países do primeiro mundo está, nesse momento, discutindo como acabar com a fome dos seus cidadãos.
Não se esqueçam. A política adotada na Argentina de Macri é a mesma adotada no Brasil de Bolsonaro e nos últimos três anos o Brasil voltou a fazer parte do mapa da fome no mundo.
Nem sempre a grama do vizinho é mais verde.
Olhando as notícias mais recentes percebemos que o Brasil continua descendo uma ladeira completamente desgovernado.
O desemprego continua elevado e não dá mostra de uma queda significativa. A taxa de desemprego apresenta pequenas oscilações, de caráter totalmente conjuntural, mas não há nenhum indício que será reduzido mesmo que seja a curto prazo.
A Amazônia está desaparecendo rapidamente. As informações que estão sendo divulgadas mostram um crescimento acelerado da derrubada da floresta desde o início desse ano e a ocorrência de grandes incêndios.
À reforma trabalhista de 2016 somou-se a medida provisória da liberdade econômica retirando ainda mais direitos dos trabalhadores sem que se consiga gerar um novo emprego que seja.
A taxa de juros continua elevada mesmo que apresente pequenas variações para baixo de vez em quando.
As projeções de crescimento do PIB estão igual rabo de cavalo. Só para baixo. Já se trabalha com uma variação de 0% para 2019. Eu sei que parece estranho dizer que irá variar 0%, mas é assim que os pretensos analistas de mercado pensam...
A reforma da previdência está caminhando rapidamente na Câmara dos Deputados. Foi facilmente aprovada em primeiro turno e também facilmente aprovada em segundo turno. Só não reparem ter sido aprovada de madrugada. Afinal, de madrugada todos os gatos são pardos... E não se iludam achando que há um envolvimento patriótico dos nossos representantes. Foi às custas de muito dinheiro que essa reforma foi aprovada.
A política externa brasileira é, como se diz à boca miúda, um samba do crioulo doido. O Brasil está se isolando do resto do mundo em função de uma aproximação irresponsável aos interesses norte-americanos. O acordo do Mercosul com a União Européia, tão propalado e tão festejado já foi abandonado, tanto pelos brasileiros como, principalmente, pelos países da própria União Européia. Virou um biscoito de polvilho. Muito barulho e pouca consistência.
O exército brasileiro fez uma revisão da lista de armas que nós, cidadãos comuns, poderemos comprar. Incluiu na lista armas de calibres mais pesados que eram de uso exclusivo das forças armadas. Só falta agora liberar o financiamento para coletes a prova de bala para que nós possamos sair de casa e ter uma pequena chance de voltar para ela no final do dia.
O Congresso flexibilizou o porte de arma de fogo dentro das propriedades rurais. Podemos entender que começou a temporada de caça?
Já se fala em rever a legislação que trata do trabalho escravo. Trabalhos que são, até esse momento, considerados análogos à escravidão poderão deixar de ser.
Radares móveis serão retirados das estradas com o propósito de acabar com uma pretensa indústria das multas. Dessa forma, as estradas brasileiras se tornarão terras de ninguém.
E o FEBEAPÁ continua. Pedindo licença mais uma vez a Sérgio Porto, a lista só vai crescendo. Se quisermos reduzir o impacto do crescimento econômico sobre o meio ambiente bastaria comermos menos e convencer nossos intestinos a funcionarem dia sim, dia não. Não, não foi um humorista de qualidade duvidosa que disse isso. Foi o atual presidente do Brasil.
Nesse ponto, diante desse festival de besteira que assola nosso país, cabe aqui uma pequena observação. Afinal, o que é mais importante? O que devemos discutir de fato? Essas falas absurdas, que beiram o ridículo, ou os problemas reais do nosso país? Assim como ignorar argumentos que defendem que o nosso planeta é plano e que nas beiradas a lei da gravidade não funciona, devemos ignorar essas falas absurdas do presidente do Brasil que acabam servindo de uma cortina para esconder o fato de que o atual governo não tem nenhuma proposta que consiga retirar a economia brasileira da recessão que está vivendo.
O brasileiro precisa colocar em sua pauta de discussão aquilo que realmente importa.
Desde 2015 a atividade econômica vem decaindo. Estamos passando por um grave processo de desindustrialização com um aumento brutal da desigualdade econômica. O Brasil retornou, nos últimos dois anos para o mapa da fome. O volume de investimento tanto público quanto privado está próximo de zero. As empresas, quando se deparam com crescimento de vendas, utilizam uma capacidade ociosa que beira os 50%. Ou seja, não há investimento. E, se não há investimento, não há emprego.
A grande pergunta: O que está sendo feito pela equipe econômica para reverter esse quadro assustador? A resposta é simples: NADA. Assim como a reforma trabalhista, a reforma da previdência não irá gerar uma nova etapa de crescimento.
Assim, diante disso tudo, podemos esperar mais falas absurdas do nosso comediante maior.
Em meado do mês anterior, mais precisamente no dia 11, a Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, a proposta base da reforma da previdência. A vitória foi, como se disse muito, acachapante. A grande maioria dos 513 deputados votou favoravelmente pela aprovação da reforma.
Muito já foi dito a respeito da reforma da previdência e muito ainda será dito. O pior é que, além de ser somente dito, muito ainda será sofrido no futuro quando a grande maioria da população brasileira começar a sentir no corpo e no bolso os impactos perversos dessa reforma.
Nesse momento cabe aqui pensarmos em quem perdeu e quem ganhou com essa reforma.
Quem perdeu, ou melhor, quem perderá seremos nós. Nós trabalhadores que teremos um horizonte sombrio ao pensarmos em nossa aposentadoria depois de uma vida inteira de trabalho. Mais tempo de trabalho, menor valor do benefício, mais regras impeditivas e limitadoras para a obtenção desse tão sonhado benefício. E estou falando somente de aposentadoria.
Agora, quem ganhou ou ganhará com essa aprovação?
Em primeiro lugar e já posso escutar as gargalhadas de felicidade, o sistema financeiro. A redução do gasto com o sistema previdenciário será totalmente absorvida pela banca financeira e tolo daquele que acredita que essa redução de gastos irá gerar investimentos do governo que irão estimular a produção e o emprego. Não caiam nessa peça de ficção, por favor.
Em segundo lugar, ganha o governo federal, mas será um ganho relativo. O principal argumento a favor da reforma se fundamenta no déficit público e todo o esforço de convencimento se baseia no fato que a reforma trará capacidade de investimento por parte do governo. Com a reforma o país poderá voltar a crescer, esse é o argumento.
Mas porque um ganho relativo? Aprovada a reforma o governo federal ficará exposto e será fortemente cobrado pela volta do crescimento econômico e como será quando isso não acontecer? É a velha história do telhado de vidro.
E quem de fato ganha? O Congresso e, principalmente, Rodrigo Maia, que costurou todo o processo de aprovação dessa reforma na Câmara dos Deputados. Uma questão que se coloca nesse momento é se teremos um parlamentarismo escondido ou, visto por um outro lado, o atual presidente se tornou realmente uma rainha da Inglaterra, ou seja, governa sem ter poder?
Tudo leva a crer que sim.
É claro que se pode afirmar que houve a interferência do Poder Executivo nessa aprovação principalmente com a liberação de um caminhão enorme de dinheiro para, literalmente, comprar o voto dos deputados. É o velho mensalão que, em um passado recente, indignou muita gente de bem e que dessa vez foi totalmente tolerada.
Mais uma vez percebemos o quanto nós, brasileiros, estamos apáticos.
Uma nova realidade começa a se abrir a nossos olhos. O presidente se transforma, cada vez mais, em uma figura exótica que se limitará a aumentar a lista do festival de besteira que assola nosso país, acreditando que governa pelo Twitter sendo sempre apoiado pelos tresloucados de sempre.
Caberá a ele se prender a questões periféricas para a vida do brasileiro e será a nossa Geni a quem jogaremos as pedras. As questões mais sérias ficarão por conta dos adultos.
Aqui podemos perceber o quanto o poder político vem se isolando do povo brasileiro. Ficou muito claro com essa aprovação da reforma que Brasília se tornou um mundo à parte. O Congresso Nacional vive, não em função dos brasileiros que o elegeu como seus representantes e sim em função de si mesmo. As suas prioridades não são as necessidades do cidadão brasileiro e sim os seus próprios interesses que, na verdade, são os interesses daqueles que os financiaram para que possam estar lá. Está mais para se locupletarem todos do que para se restaurar a moralidade.
Daí podemos entender o choro do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Foi um choro que explicita o poder, que mostra a emoção de quem, a partir de agora, determinará os rumos do Brasil. De quem tem o Congresso na palma da mão e poderá tirar do governo federal a quantidade de dinheiro que quiser.
Com certeza o nosso choro não será de alegria.
O Brasil caminha a passos largos para o fundo de um buraco que, e isso é assustador, nunca chega. Estamos prestes a fechar mais uma década perdida.
As estimativas de crescimento do PIB estão sendo rebaixadas sistematicamente. Do início do ano, quando os especialistas em economia previam um crescimento de algo em torno de 3% para 2019, chegamos na metade do ano e esse número veio caindo ao longo do tempo. Parece uma contagem regressiva: 3, 2, 1.... Agora, no final do mês de junho, as previsões muito otimistas dizem que o PIB irá crescer por volta de 1%. As mais realistas e não menos otimistas dizem que provavelmente teremos um crescimento no PIB entre 0,5 e 0%.
O desemprego só faz aumentar. A cada mês temos notícias de que o número de novas vagas de emprego, oferecidas pelas empresas, vem sendo cada vez menor. Não há nenhum indicador que mostre uma possibilidade, mesmo que mínima, de reversão desse aumento no desemprego.
O atual governo não está conseguindo combater esse mal na sociedade brasileira que se chama desemprego.
A crise econômica se mostra cada vez mais grave e já se discute quando estaremos de fato em uma forte recessão.
O governo, no esforço de justificar uma panaceia que se chama reforma da previdência, brada aos quatro ventos que o Brasil vem passando por uma forte crise fiscal e que, se essa reforma não for aprovada não haverá dinheiro para nada, criando uma situação de pânico entre a população a ponto de afirmar que não haverá dinheiro para pagar as aposentadorias.
Uma crise fiscal significa, grosso modo, uma incapacidade do Estado em atender as demandas dos vários segmentos da sociedade em função de uma restrição em sua capacidade de gasto em virtude de um crescimento das despesas ou de uma redução das receitas.
Olhando placidamente para uma definição técnica como essa ficamos quase (eu disse quase) tentados a acreditar. No entanto, quando verificamos que o governo brasileiro anuncia aos mesmos quatro ventos que irá reduzir os gastos com educação, por exemplo, em função dessa alegada crise fiscal observamos também que esse mesmo governo aumentou o gasto com os juros da dívida. Somente em abril desse ano, nos 22 dias uteis desse mês, o governo gastou 35 bilhões de reais e fazendo uma conta bem simples, isso implica gastar 1,6 bilhões por dia!!!!
Considerando o período de janeiro a abril de 2019 em comparação com o mesmo período em 2018, ocorreu um crescimento de 9% no montante gasto com o pagamento de juros da dívida.
Assim, vem à nossa mente uma pergunta: qual crise fiscal???
Não há dinheiro para a educação, mas esse dinheiro existe para pagar juros e fazer os banqueiros felizes?
O governo brasileiro gastou em 2018 algo próximo a 400 bilhões de reais com juros e esse número só faz crescer. Qual crise fiscal? Para que a reforma da previdência? A suposta economia de 1 trilhão de reais em 10 anos, resultado da aprovação dessa reforma espúria e que iria ser usado para dar capacidade de investimento ao governo será totalmente absorvido pelo sistema financeiro. E estou sendo otimista considerando que esse trilhão irá existir. Não se esqueçam que está em vigor uma emenda constitucional que foi aprovada em 2016, chamada de "teto dos gastos" que fará que esse dinheiro seja totalmente absorvido pelo pagamento dos juros da dívida.
Os banqueiros, com uma lágrima escorrendo no canto dos olhos, sinceramente agradecem.
Aqui faço uma autocrítica e me explico melhor.
Autocrítica por ter cometido uma injustiça ao governo com um comentário feito algumas linhas atrás. Eu disse que o governo não está conseguindo combater o desemprego. Na verdade, não é que ele não esteja conseguindo e sim que ele não está fazendo absolutamente nada para combater o desemprego. Peço desculpas pela injustiça.
E explico melhor o título acima. Diante de todos esses problemas que vivemos o que alardeia aos já conhecidos quatro ventos o nosso capitão presidente? Que irá rever a norma que torna obrigatória a utilização da tomada de três pinos, que essa tomada é a "tomada do PT" e que por isso deve acabar, mesmo com o parecer contrário do INMETRO. E o que acontece então? A sociedade gasta um esforço absurdo em discutir a utilização ou não dessa tomada de três pinos.
É o festival de besteira que assola o Brasil. Estamos vivendo um teatro dos absurdos.
Cai o pano.
Se consultarmos os dicionários veremos que apatia significa um "estado de alma não suscetível de comoção ou interesse; insensibilidade, indiferença." A filosofia, tão denegrida ultimamente, nos diz que apatia é o "estado de insensibilidade emocional ou esmaecimento de todos os sentimentos, alcançado mediante o alargamento da compreensão filosófica."
Por sua vez e ainda consultando o "pai dos burros", descobrimos que alienação é a redução da capacidade do indivíduo em pensar e agir por conta própria, não existindo interesse em ouvir opiniões alheias e somente se preocupando com aquilo que lhe interessa diretamente.
Já a psicologia entende a alienação como um processo de despersonalização no qual o sentimento e a consciência da realidade estão fortemente diminuídos.
Já a teoria econômica cria, para melhor compreensão de uma realidade complexa, a ideia de que os indivíduos agem como se vivessem em uma manada de bois onde a maioria das pessoas seguem, de cabeça baixa e ruminando seus problemas, um boi que vai lá na frente e todos agindo de uma mesma maneira.
Apatia, alienação, espírito de boiada, infelizmente refletem claramente uma grande parcela da nossa sociedade.
O Brasil está vivendo uma estranha realidade. Procurei várias maneiras de tentar entender essa realidade e depois de pensar um pouco percebi que quem tem a melhor explicação da nossa realidade faleceu, por mais estranho que pareça, em 1968. Estou falando de Sérgio Porto, vulgo Stanislaw Ponte Preta, um cronista e humorista carioca que criou o Febeapá, o Festival de Besteira que Assola o País. Esse festival, apesar de criado para criticar uma realidade diferente da nossa, se mostra bem moderno.
Vejamos:
Cena 1: Dados da Organização Mundial de Saúde apontam o Brasil como o país com maior número de assassinatos por arma de fogo. Em 2016, 43 mil pessoas foram mortas por armas de fogo e, de acordo com a OMS, Brasil, EUA, México, Colômbia, Venezuela e Guatemala são responsáveis por 50,5% do total de mortes por armas de fogo no mundo todo. Diante desse quadro assustador, o atual presidente brasileiro assinou recentemente decreto que amplia o direito de posse e porte de armas para uma série de categorias profissionais.
Cena 2: O Brasil possui 11,5 milhões de pessoas analfabetas. Desse total, 41,5% são homens com idade entre 25 a 60 homens e 39,7% são mulheres na mesma faixa etária. Considerando que entre 25 e 60 anos é uma faixa de idade na qual as pessoas já tem filhos em idade escolar e considerando a necessidade de aumentar o número de crianças dentro da escola, o governo federal assinou, em abril desse ano, decreto que autoriza o homeschooling, ou educação domiciliar. Nessa modalidade de ensino, os pais, utilizando-se de metodologias próprias, educam os próprios em casa, fora do ambiente de uma escola.
Cena 3: do total dos 513 deputados eleitos na última eleição no Brasil, 178 deputados são investigados por crimes diversos e vários deles envolvidos em acusação de corrupção. Esse número corresponde a 30% do total dos deputados eleitos. O atual ministro de justiça apresentou a esse congresso, para a devida apreciação e votação, um pacote anticrime.
Cena 4: O presidente Bolsonaro escolheu como ministra da Agricultura, Tereza Cristina, deputada dos Democratas do Mato Grosso do Sul. Conhecida como a "musa do veneno", nos primeiros 40 dias da gestão de Tereza Cristina no ministério foram liberados 54 novos agrotóxicos. A referida deputada recebeu financiamento na sua campanha eleitoral de grandes empresas produtoras de produtos químicos.
Cena 5: Em um mundo onde se discute a gravidade da exploração sexual da mulher, o presidente brasileiro afirma que se um turista quiser vir ao Brasil para ter relações sexuais com mulheres está tudo bem. O que não pode acontecer são relações homossexuais.
Cena 6: Em um mundo onde se discute relações de gênero e as novas formatações familiares, a ministra do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirma que as meninas devem se vestir com roupa cor de rosa e os meninos com roupas azuis e se preocupa com o que acontece nos pés de goiaba.
Cena 7: Com uma taxa de desemprego extremamente elevada, com um empobrecimento do brasileiro aumentando ano a ano, o Brasil apresentando o menor crescimento médio do PIB em 120 anos (isso mesmo, você não leu errado. São 120 anos...), uma capacidade ociosa das empresas por volta dos 40%, o que foi feito a respeito? O horário de verão foi extinto.
Poderíamos continuar nas cenas 8, 9, 10...
Diante desse Febeapá, o brasileiro nunca foi tão apático, nunca foi tão alienado como está sendo. O brasileiro não questiona, não enxerga o que está acontecendo. Nos prendemos em discussões inúteis como se a terra é plana ou não, sobre a separação de um ou outro artista de novela... o mundo anda para a frente e nós, estranhamente, estamos andando para trás.
Stanislaw Ponte Preta nunca foi tão atual.
E as notícias não são boas. Na verdade, são desanimadoras.
Recentemente o Ministério do Trabalho e Emprego disponibilizou dados do CAGED – Cadastro Geral do Empregados e Desempregados - sobre o nível de emprego para o Brasil, Estados e Municípios.
Os números não nos dão boas notícias. Pelo contrário, ainda estamos aguardando a tão prometida geração de empregos em função da aprovação da reforma trabalhista de 2017. Ou será que estamos diante de mais uma "história para boi dormir"?
O que importa é que os números nos mostram que a economia brasileira está devagar, quase parando. O número de desempregados é enorme. Já temos, considerando todos, inclusive os chamados desalentados, cerca de 45 milhões de pessoas sem trabalhar. É um número assustador.
Vamos olhar com mais atenção o que os números do CAGED nos dizem, tanto no que se refere ao Brasil, a Minas Gerais e a São Gotardo.
No total, no Brasil, em fevereiro e com relação ao mês anterior, houve um crescimento no nível de emprego em 0,45%. Para Minas Gerais, a variação no mês foi de 0,65% e São Gotardo, acompanhando o número nacional, apresentou uma variação de 0,46% no emprego no mês de fevereiro.
É muito pouco.
O setor que apresentou maior variação em São Gotardo, foi o setor de serviços: 1,57%. Em segundo lugar aparece o setor de construção civil: 1,02% - seguido pelo setor agropecuário: 0,70%. Industria de transformação e comércio apresentaram variação negativa, -0,46% e -0,62%, respectivamente, que significa dizer que demitiram mais do que contrataram.
Resultados pífios...para se ter uma ideia do que esses números representam, tomemos o setor de construção civil. Apresentou uma variação positiva de 1,02%, o que representa a contratação de 7 pessoas e a demissão de 5 gerando um saldo de 2 pessoas. Em termos líquidos, em fevereiro, somente 2 pessoas foram contratadas nesse setor. O setor de serviços, a maior variação, contratou 85 pessoas em fevereiro, porém demitiu 57.
Para uma melhor ideia do que está acontecendo, em fevereiro de 2018, a variação do emprego para São Gotardo foi de 3,52%.
Se começarmos a analisar de forma mais detalhada os números para Minas Gerais e para um Brasil como um todo, veremos que se tratam de contextos semelhantes.
Na verdade, está ocorrendo uma retração da atividade industrial que afeta, direta ou indiretamente, São Gotardo. A indústria brasileira participava, na década de 80%, 20% do PIB, em 2017 participou com 11,8% e em fevereiro de 2019 a queda da atividade industrial foi de -0,2%. O resultado disso é um aumento no número de pessoas que, não conseguindo emprego em outros setores, passam a trabalhar por conta própria. No primeiro trimestre de 2019, de acordo com o IBGE, em relação ao primeiro trimestre de 2018, o crescimento do número de pessoas que trabalham por conta própria foi de 2,8%, somando 24 milhões de pessoas. Portanto, está em curso, nesse momento, uma forte precarização da força de trabalho pela piora das condições de trabalho e a brutal queda nos rendimentos do trabalho. Não é à toa que criaram o termo "uberização" para exemplificar essa precarização da força de trabalho.
Não há movimento empreendedor que dê conta dessa situação.
Diante desse quadro perverso de retração econômica, buscamos alguma informação para saber o que se pretende fazer para combater esse desemprego monstruoso e descobrimos que o atual governo federal, até esse momento, não tem nenhuma proposta, concreta ou não, de política para promover o crescimento do emprego. Nada está sendo feito.
Todo o debate que envolve Brasília está se limitando a uma reforma da previdência que está sendo posta como a panaceia ideal para os nossos problemas. Uma beberagem que basta ser ingerida que todos os nossos males desaparecerão.
Infelizmente não é verdade.
A reforma da previdência não irá gerar condições para aumento no nível de investimento do Estado. A economia que é anunciada, 1 trilhão de reais em 10 anos, mesmo que seja verdade, não será revertida em gasto com saúde, educação, saneamento, etc., etc., etc. Será absorvida pelo setor bancário através da imexível política de prioridade de pagamento dos juros da dívida interna.
Existe aqui uma lógica econômica cruel: se o governo reduz seus gastos a economia se contrai, o governo arrecada menos por causa do desemprego e do endividamento das famílias e, se o governo reduzir ainda mais seus gastos, como por exemplo a reforma da previdência, estaremos apagando fogo com gasolina.
A solução chega a ser simples. Se queremos acabar com o déficit da previdência, se queremos reduzir esse desemprego perverso, o Brasil precisa crescer e para crescer é necessário um ambiente que seja favorável não só aos empresários como também aos consumidores. É necessário ter emprego, ter renda, consumo e, principalmente, ter confiança no futuro.
Se não houver um estímulo ao investimento, um estímulo à produção real, de bens e serviços, não haverá emprego, não haverá renda, não haverá consumo e também não haverá confiança no futuro e não adianta dizer que somente após o governo equilibrar suas contas isso acontecerá.
Simples assim.