Muitos acreditam que a Economia é uma ciência insípida e mesmo chata. Em sala de aula percebo o olhar desanimado de alguns alunos quando se trata de estudar e, principalmente, entender as relações econômicas.
Em grande parte, a culpa é da própria ciência que, em alguns momentos, complica uma situação que é simples e o fato de usar e abusar da matemática para explicar o que pretende só piora tudo.
A verdade é que, em uma economia monetária como a nossa e quando falo nossa não penso em São Gotardo, ou Minas Gerais ou mesmo Brasil e sim estou pensando em praticamente todo o planeta, todas as relações econômicas se manifestam através da moeda e parece a todos que estamos correndo de lá pra cá atrás da moeda e somente atrás dela.
O que não é bem verdade. Estamos sim correndo, e correndo muito, de lá para cá atrás da nossa sobrevivência, da satisfação das nossas inúmeras necessidades e buscando conforto e uma vida sem muitas atribulações e precisamos da moeda, do dinheiro, para que isso possa acontecer.
E é exatamente neste ponto do entendimento que as coisas se complicam um pouco. Está enraizado na cabeça de todos que uma boa vida, tranquila, confortável, só é possível quando conseguimos acumular o máximo de bens materiais e se isso não acontece, sofremos.
Assim, conforto, prosperidade, paz, só são possíveis quando acumulamos, quando reunimos bens e para muitos, infelizmente, a não reunião desses bens significa derrota, fracasso, doenças, insatisfações e frustações.
E para acumularmos bens, simbolizar nossa vitória através desses bens, precisamos do quê? Exato! De dinheiro. Assim, pensar em termos econômicos significa pensar em termos monetários e a Economia se torna uma ciência que estuda a distribuição desse dinheiro e nem sempre, ou melhor, quase nunca essa distribuição se dá de forma justa. Justiça é um conceito que muitas vezes passa ao largo da Economia.
Assim, Economia passa a ser uma ciência que estuda essa distribuição de dinheiro entre todos e essa distribuição se torna um conflito, uma disputa. Afinal, se felicidade, se bem-estar, se vitória, é fruto da acumulação de bens, quanto mais dinheiro eu tiver mais felicidade terei, mais reconhecimento social terei e como o bolo é único, se quero mais fatias alguém ficará sem, fatalmente. Milionários são bem reconhecidos e bem aceitos socialmente. Reconhecidos e respeitados. Agora, se falta o dinheiro, falta o reconhecimento e aceitação social.
Vale aqui, para muitos, a máxima que o dinheiro traz felicidade sim e se alguém não tem dinheiro é imediatamente considerado um fracassado. E o pior de tudo é que não é necessário que alguém te ache fracassado. Nós mesmos somos condicionados em nos sentirmos fracassados por não conseguir ter dinheiro.
É nessa lógica que os adeptos da meritocracia se sustentam. Se você não tem, a culpa é somente sua por não ser capaz de ter, de acumular. Infelizmente. Um raciocínio simples que traz consigo muita dor e muito sofrimento.
Quando escutamos ou lemos notícias sobre a questão econômica, estamos lendo ou escutando exatamente todo esse conflito gerado na busca pelo dinheiro e em tudo que ele representa. Arcabouço fiscal, reforma tributária, taxa de juros, salários, preços, todos esses elementos se resumem, não se pode dizer que de forma equivocada já que é a própria essência do sistema capitalista, em dinheiro.
O objetivo de vida é, portanto, conseguir acumular uma porção maior de dinheiro. Não importa se são pessoas, empresas ou governo. O que importa é acumular dinheiro e assim acumular respeito e principalmente, poder.
Se alguém quer entender de fato economia deve entender todas essas relações.
Justiça social, vida digna, conforto? É uma discussão que a Economia muitas vezes joga para debaixo do tapete e se alguém se atreve a colocar essa discussão na mesa é simplesmente taxado de comunista. Ou de ressentido!
2023 vem sendo marcado por ser, pelo menos na área econômica, um ano mais tranquilo do que os anteriores.
Agora, quanto à questão política, há controvérsias...
Vejamos. O governo Lula conseguiu aprovar, no mês de agosto, o novo arcabouço fiscal que irá determinar como acontecerão os gastos futuros do governo. Em substituição ao famigerado e, espero, rapidamente esquecido, teto dos gastos, o novo arcabouço fiscal, mesmo não sendo o ideal e que ainda engessa bastante a capacidade de manobra do governo federal quanto à realização de sua política fiscal, será melhor do que seu antecedente.
Uma boa notícia veio junto com a aprovação do arcabouço fiscal. O FUNDEB – Fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica e de valorização dos profissionais da educação – ficará fora do novo arcabouço fiscal.
O FUNDEB foi criado em 2007 e seus recursos tem origem em impostos arrecadados nos municípios, nos Estados e na União. Por sua vez, a participação da União no fundo é progressiva e passará, em 2024 para 21% e 23% em 2025 e é uma boa notícia que essa participação da União ficará de fora do controle de gastos. Uma boa notícia para uma educação tão sofrida e mal tradada nesse nosso Brasil.
Uma questão que devemos sempre ter em mente e que já foi discutida aqui em outros momentos, é que não devemos sair criticando o fato de que o governo realize algum tipo de gastos. Sempre que essa discussão aparece, alguns profissionais da imprensa correm para comparar os gastos do governo com nossos gastos privados e o argumento é simples e fácil de ser digerido. Afinal, se na nossa vida pessoal temos que lutar com uma restrição de orçamento, lutando para pagar nossas contas e buscando realizar algum tipo de poupança, o governo deveria agir da mesma forma. Procurar uma situação chamada de equilíbrio fiscal, no qual pagaria todas as suas contas, conseguiria acumular alguma poupança e aí sim, realizar investimentos. Da mesma forma que fazemos como queremos trocar de carro, por exemplo.
Primeiro apertamos os cintos, guardamos algum dinheiro e depois compramos o carro.
Nada mais errado do que levar esse raciocínio para as contas públicas!
Nós, trabalhamos, recebemos nossos salários, nossas rendas e pagamos impostos. Se quisermos aumentar nossa renda, ou procuramos um emprego melhor, que pague mais, ou arrumamos outro emprego, ou qualquer outra coisa. O que não podemos fazer é fabricar dinheiro. Afinal, estaríamos cometendo um crime se fizermos isso.
Agora, com o governo é um pouco diferente. O governo financia seus gastos pela arrecadação tributária e pela criação de nova moeda que nem sempre será considerado um ato que gera mais inflação se for acompanhada de crescimento da atividade econômica.
Gastos com governo com sua política fiscal, gerando empregos e renda, são ações benéficas para a sociedade e que serão financiados por maior arrecadação tributária.
Agora, um gasto do governo com pagamento de juros exorbitantes transferindo renda de forma brutal para o sistema financeiro, esse sim, é um ato prejudicial à sociedade. Reduz a capacidade do Estado em fornecer bem-estar para a sociedade e gera uma acumulação brutal de recursos nos cofres dos grandes bancos.
Esse conceito genérico de que o governo tem que ter responsabilidade fiscal só teria sentido se envolvesse essa questão da transferência de recursos públicos para os bancos. Sem isso, passa a ser algo que não leva a nada.
A sociedade deve, sim, sentar e discutir questões antipáticas a uma parcela da sociedade e da chamada mídia corporativa. Porque nós trabalhadores temos que pagar 27,5% de imposto de renda na fonte e aquele investidor (ou seria melhor chamar de especulador) não paga imposto de renda quando recebe milhões de dividendos?
Porque?
As notícias começam, lentamente, a melhorar.
A taxa de desemprego apresentou queda. As previsões sobre o crescimento começam a serem revistas para cima, os preços estão reduzindo sua taxa de crescimento. Produtos como a carne, que se tornou um dos principais problemas na mesa do brasileiro vêm apresentando reduções nos seus preços e os churrascos nos fins de semana estão se tornando mais animados.
Afinal, churrasco de ovo e pé de frango não tem muita graça...
Muitos dizem que é sorte. Que o atual governo é um governo de sorte e que basta iniciar sua gestão que os indicadores começam a melhorar. Os preços das commodities aumentam, o barril de petróleo fica mais barato, as empresas ofertam mais empregos e por aí vai.
Na verdade, não existe sorte na atividade econômica.
Existe sim a conjunção de políticas econômicas com mudanças de conjuntura e é muito difícil acreditar que a conjuntura era ruim no dia 31 de dezembro e que melhorou sensivelmente no primeiro dia do ano seguinte.
O governo atual vem buscando alterar o rumo da economia brasileira e o primeiro passo que teve que ser dado foi a redução da taxa de juros no Brasil. Uma das taxas de juros reais mais alta do mundo arriscando a ser a mais alta do mundo.
Não há investimento produtivo que se sustente com taxas reais de juros no patamar de 8%, 9% ou mesmo 10%. Juros reais, explicando melhor, são calculados deduzindo da taxa de juros nominais, por exemplo, uma taxa de 14% ao ano. Esta é uma taxa nominal. Se a inflação no mesmo período for de, também um exemplo, 5%, a taxa real é a diferente entre a taxa nominal e a taxa real, ou seja, teríamos uma taxa real de 9%.
Foi um exemplo, mas um exemplo muito próximo da nossa realidade.
E situações como essa elevam o custo financeiro dos investimentos, provocam uma transferência brutal de renda da esfera produtiva, que gera emprego, para a esfera produtiva que tem uma capacidade muito pequena de geração de emprego, ou melhor dizendo, é um setor mais estéril do que a produção, seja industrial, de serviços ou relacionada ao campo.
Quando essa discussão sobre a taxa de juros veio à tona, sobre a necessidade de se reduzir essas taxas para estimular investimento, emprego e consumo, esbarramos em uma excrecência que foi criada em um passado recente que a malfadada independência do Banco Central em relação às decisões de política econômica.
A lógica adotada para se defender essa independência foi de que o Banco Central precisa ter liberdade para controlar a alta de preços, ou seja, a inflação, através da manutenção de taxas elevadas de juros para desestimular o consumo e, portanto, desacelerar a inflação.
No entanto, não é possível entender que o controle monetário exercido pelo Banco Central seja independente das decisões de política econômica levadas a cabo pelo poder executivo. A moeda é fator fundamental nesse conjunto chamado de economia e não um mundo à parte.
Dessa forma, um dos embates levado a cabo pelo governo atual foi buscar junto ao Banco Central mecanismos para reduzir a taxa de juros. Por sua vez, o BACEN se mostrou rígido nas suas decisões sobre a taxa até que a inflação mostrou tendências de queda.
Só que essa tendência de queda foi o resultado de uma forte retração do consumo e renda, levando milhões de pessoas de volta ao nível de pobreza, milhões de pessoas desempregadas, aumento da insegurança alimentar e mesmo fome.
Os preços podem cair? Sim, podem. Mas a que preço?
As empresas reduzem vendas, passam a sobreviver com taxas de rentabilidades baixas, as pessoas não consomem, não trabalham porque as empresas não vendem e por aí vai.
Além do fato de que a inflação brasileira não é necessariamente uma questão de elevação de preços por excesso de demanda.
São muitos os problemas que enfrentamos. Baixa qualificação do trabalho, baixos níveis de remuneração, baixa capacidade de poupança, uma forte concentração de renda, um sistema tributário injusto e em alguns momentos regressivos e vários outros.
Uma reforma tributária já foi feita, mas ainda insuficiente. Se faz necessário colocar na base tributárias os tão falados "super ricos", algumas poucas pessoas que concentram absurdos 90% ou mais da renda em suas mãos e que vivem em uma bolha de riqueza que se tornou ofensiva ao resto da população.
São muitos os problemas que temos que resolver e se resolverá por sorte?
É claro que não! Não é sorte e sim vontade política e essa, felizmente, voltou.
Agora o ano de 2023 pode começar. Como sempre foi dito, o ano somente começa após o carnaval e, portanto, chegou o momento de pensarmos como resolver os grandes e graves problemas que foram se acumulando nos últimos seis anos.
Temos uma taxa de desemprego elevada e que, apesar dos indicadores do mercado de trabalho mostrarem, nos meses finais do ano passado, uma pequena recuperação no nível de emprego, temos que pensar essa questão em seu todo. Não somente pensar nessa recuperação do índice, que, sim, é importante, mas pensar também que a maior parte do desemprego que o Brasil hoje apresenta diz respeito a empregos de baixa qualidade, com remuneração também baixa, uma alta taxa de trabalhadores no mercado informal e também, infelizmente, uma alta taxa de trabalhadores em uma situação chamada de “desalento”, ou seja, trabalhadores que perderam o emprego há um bom tempo e perderam, o que é pior, a esperança de conseguirem retornar ao mercado de trabalho formal.
Isso significa dizer que o Brasil precisa e de forma urgente, melhorar a qualidade do emprego que está gerando. Temos sempre que pensar que questões como essa impactam, não somente o bem estar do trabalhador, mas também impacta positivamente nos níveis de venda da atividade comercial.
É uma reação em cadeia. Salários maiores, melhor consumo, melhores vendas, maior produção, maior arrecadação. Enfim, um círculo virtuoso que muitos se recusam a aceitar, considerando que salário é custo e não renda e, por ser custo, deve ser reprimido absolutamente.
Um verdadeiro tiro no próprio pé.
Uma notícia boa que tivemos nesse início de ano será a correção da tabela de retenção do imposto de renda a partir de maio e a projeção que se faz é cerca de 13 milhões de pessoas deixarão de pagar imposto de renda e, portanto, poderão utilizar esse recurso adicional para o consumo e para a redução de seu endividamento.
Outro ponto que devemos resolver e que foi motivo de muita polêmica ao longo do mês passado foi a questão da taxa de juros e da taxa de inflação. O Brasil hoje apresenta a maior taxa de juros reais do mundo, absurdos 8% ao mês, diante de uma inflação que não é de forma alguma provocada por um excesso de demanda, ou de consumo, que jogaria os preços para cima e, portanto, justificaria a elevação da taxa de juros pelo Banco Central dito independente para controlar a inflação. De forma alguma a inflação brasileira hoje é decorrente de uma inflação de demanda e sim uma inflação de custos, provocada por um aumento nos custos de produção e do processo especulativo sobre os alimentos.
Não é possível pensar em crescimento econômico com uma taxa nominal de juros de 13,75% e, como já dito, descontada a inflação, uma taxa real de juros de 8% ao mês.
E é exatamente disso que precisamos. Crescer, gerar emprego, gerar consumo e gerar capacidade de poupança para os brasileiros e nesse momento, a solução para esses problemas passa pelas mãos do Estado, da capacidade do Estado de gerar crescimento através dos seus gastos.
Não é possível pensar em uma recuperação econômica decorrente de maiores investimentos do setor privado. A lógica é simples. Com renda baixa haverá pouco consumo. Pouco consumo, poucas vendas. Desemprego elevado com inflação alta. Todo esse cenário desagua em um baixo nível de expectativas de vendas e o investimento privado depende das expectativas dos empresários. Baixas expectativas, baixos investimentos e taxa de juros elevadas, o empresário mantem sua rentabilidade em aplicações financeiras e não em investimentos em produção.
Uma bola de neve que cresce continuamente.
Como todo o resto do mundo, o crescimento econômico tão desejado e esperado dependerá do Estado. E antes de começarem as críticas sobre o gasto público, olhem para o nosso grande irmão do norte. O Governo estadunidense está gerando o maior programa de investimento público da história americana. São alguns bilhões de dólares para estimular o crescimento da economia.
E nesse momento, concordo com aquela antiga máxima que diz que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.
Vamos imaginar que estejamos assistindo uma novela mexicana daquela bem dramáticas. Uma mocinha sofre nas mãos da vilã da novela. Ela, a mocinha, apaixonada pelo galã, mas tem a vilã como sua grande rival na disputa pelo amor do bonitão.
A vilã descobre, por vias tortas, um segredo no passado da mocinha, segredo esse escondido a sete chaves. Como não poderia deixar de ser, a vilã usa esse segredo como uma grande chantagem obrigando a mocinha a renegar o amor do galã, deixando-o desesperado e, claro, buscará consolo para sua dor nos braços da vilã que nesse momento se passará como uma pessoa compreensiva e disposta a curar o sofrimento do abandonado.
A história se arrasta por vários capítulos. O galã passa a dedicar à mocinha um ódio mortal que é induzido pela vilã travestida de boa moça.
Muitas voltas e reviravoltas acontecem. Como muito esforço a vilã consegue obter do galã uma promessa de casamento e nos capítulos finais, às vésperas desse enlace fatídico que todos sabem que não dará certo, todo o mistério é solucionado.
O grave segredo da mocinha é revelado e se percebe que não é algo tão grave assim e muitas lágrimas depois, o casal fará as pazes e o último capítulo é dedicado a mostrar a todos a felicidade do casal e depois de uma cena mostrando um belo por do sol aparece na tela.
Fim
Toda essa volta é para percebermos o que já vem acontecendo a muito tempo com a relação entre o mercado financeiro e o governo federal.
Quando falo que acontece já a muito tempo, teríamos que voltar até o primeiro e segundo governo do Presidente Lula, passando pelo governo Dilma, uma trégua nesse dramalhão é percebida nos governos Temer e Bolsonaro para voltar com força no atual mandato presidencial.
Estou falando das inúmeras chantagens feitas pelo mercado financeiro a cada anúncio governamental que envolva aumento de gastos a começar ainda no ano passado com a discussão da então chamada PEC de Transição, necessária para garantir o pagamento do auxílio governamental às pessoas mais carentes, auxílio esse prometido pelo governo passado, mas que não foi contemplado no orçamento da União.
A cada anúncio de qualquer tipo de gasto o mercado financeiro reage e o câmbio aumenta e a Bolsa de Valores cai. Nesse momento entra em ação uma parte da imprensa que atua como porta voz da tão conhecida avenida Faria Lima em São Paulo. As notícias se tornam catastróficas. O dólar subiu, apregoam desesperados. A Bolsa caiu, anunciam se descabelando. Haverá fuga de capitais, choram desesperados.
É o fim do mundo. É o fim dos tempos.
Estarrecidos todos começam a rezar desesperados, acumulam alimentos em casa para se prevenirem de uma grande convulsão social. Sonos são perdidos...
Exageros à parte, no dia seguinte tudo volta ao normal. O dólar se estabiliza, a Bolsa de Valores se estabiliza, a grande imprensa faz cara de paisagem assobiando uma musiquinha como se dissesse: quem, eu????
No dia 8 de janeiro assistimos, estarrecidos e em choque, uma tentativa de golpe de Estado que felizmente não deu certo.
E o “mercado”? Nada. A segunda-feira começou como se nada tivesse acontecido.
Todas essas reações do câmbio e da Bolsa de Valores não passam de chantagens baratas de um setor da economia que busca manter seus ganhos a todo custo, mesmo que esse custo implique em manter ou mesmo aumentar o grau de penúria de uma grande parte da sociedade brasileira.
É mais ou menos assim: primeiro os meus, depois os teus...
Esse dramalhão mexicano não terá fim. Se arrastará por todos os quatro anos do governo Lula. A chantagem do mercado financeiro continuará sempre que for anunciado um novo tipo de gasto na área social.
Infelizmente.
Esse final de ano, após os resultados das eleições de outubro, está bastante animado.
A começar pelas inúmeras manifestações que se iniciaram após a confirmação da vitória do candidato do partido dos trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva.
Vimos em alguns momentos situações bastantes constrangedoras, como pessoas cantando o hino nacional para um pneu, o grande meme do ano que foi o homem agarrado a um caminhão andando pelas nossas estradas, pessoas clamando pela intercessão de extraterrestres para uma alegada necessidade de intervenção militar no país.
Sabemos todos que essas pessoas, além de simplesmente alegarem que exercem seu livre direito de manifestar, cometem crimes ao fazerem apologia e exigirem um golpe de Estado por não estarem satisfeitos com o resultado das urnas.
São situações que somente contribuem para conturbar ainda mais nosso ambiente político e econômico.
O Brasil vem apresentado vários problemas econômicos. Inflação, desemprego, falta de investimento produtivo, juros elevados, baixa capacidade de poupança, redução do nível de renda.
Seria o momento de estarmos discutindo o que pode ser feito para resolver todos esses problemas e não ficarmos preocupados com essas manifestações que, em muitas situações, se mostram absurdas.
O processo eleitoral acabou e como muitas organizações atestaram, foi um processo justo e lícito e não é a hora de ficar alegando sem nenhuma justificativa fraude, golpes ou qualquer tipo de irregularidades.
Assim é a democracia. A maioria decidiu e essa decisão deve ser respeitada. Não agradou a todos? Não existe unanimidade, sabemos disso, mas a decisão da maioria deve ser sempre respeitada. Assim é o processo democrático. Simples assim.
Agora é a hora de pararmos e discutirmos o que temos que fazer para resolver nossos problemas. Como controlar a inflação que voltou a subir. Como reduzir a inadimplência que continua crescendo. Como aumentar o nível de emprego e como fazer com que o poder de compra de todos nós aumente. Como aumentar o volume de investimento da economia brasileira e evitar o processo de desindustrialização pelo qual passamos.
Ou seja, como fazer com que a qualidade de vida do brasileiro melhore?
Essa é a grande pergunta que todos nós devemos fazer. Afinal, como já disse em outros momentos, o objetivo último da economia não é somente com a parte contábil, com a relação gastos e receitas e sim com o bem estar da população.
A responsabilidade fiscal é importante? Sim, é. Mas temos que ter em mente que não podemos achar que administrar o Estado é a mesma coisa de administrar nossas rendas pessoais. Nós não emitimos moeda como faz o Estado. Nós temos uma renda constante no tempo coisa que o Estado não tem. Dessa forma, são completamente diferentes a renda familiar e as rendas do Estado. Não é e nem pode ser a mesma coisa.
O Estado emite moeda e nessa emissão gera consumo, gera emprego. A visão de que a emissão de moeda gera inflação não mais se sustenta e cabe ao Estado usar essa capacidade, esse poder, para induzir crescimento de emprego e renda.
Temos que entender que todas essas oscilações de mercado, de câmbio, de bolsa de valores refletem somente uma pressão do mercado financeiro para sustentar a enorme transferência de renda da sociedade para o mercado das grandes finanças.
São essas as questões que devem não nos preocupar e não se teremos ajuda extraterrestre.
Simples assim!
Quando essas linhas forem publicadas já saberemos quem será o nosso presidente para os próximos quatro anos.
Passamos por um mês de outubro que foi extremamente desgastante, tenho certeza, para todos nós. A campanha eleitoral foi marcada por um uso agressivo de notícias falsas, as fakes news, usadas em larga escala sem que a justiça obtivesse um êxito concreto do seu controle e da punição às pessoas envolvidas.
Pedofilia, tiros, assassinatos, agressões a religiosos, uma narrativa intensa voltada para o lado religioso, satanismo, maçonaria, assédio eleitoral, etc, etc, etc. Um extenso rol de notícias que tirou do foco as necessidades reais da economia brasileira.
O fato é que o Brasil precisa rever suas prioridades. A economia brasileira precisa redefinir seus rumos diante de uma encruzilhada que vem se abrindo diante de todos nós nos últimos seis anos.
Afinal, o que queremos? Emprego? Renda? Salários dignos? Ou queremos mais violência, mais agressões e mais de uma brutal transferência de renda para o mercado financeiro que controla e determina os rumos atuais de nossa economia?
Qual é, portanto, o fim último da economia senão o bem estar do ser humano?
Não podemos mais conviver com a fome em um país que tem capacidade de matar a fome de todo o planeta. Não podemos mais continuar desmatando indiscriminadamente nossas florestas, comprometendo a nossa própria sobrevivência futura.
Nas semanas finais do mês de outubro foi amplamente divulgado planos vindos do Ministério da Economia que visam desindexar o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias, abrindo a possibilidade de reajustes abaixo da inflação, jogando algo próximo a 80 milhões de brasileiros em situações de penúria, planos esses que tem como objetivo controlar os gastos públicos.
Mas não podemos esquecer que somente no mês do outubro, como forma de estímulo ao voto, o governo federal gastou algo próximo a 70 bilhões de reais em pacotes de “bondades” que, em tese, estimulariam o voto de alguns eleitores e para tornar a notícia ainda mais grava, somente esse ano foram despejados algo em torno de 273 bilhões na economia brasileira.
Uma coisa é certa. Esse gasto exagerado do governo federal com objetivos puramente eleitoreiros irá mandar a conta em muito pouco tempo.
O rombo desses 273 bilhões deverá ser coberto de alguma forma já que a economia não é algo milagroso e daí se entende o porquê da desindexação do salário mínimo e das aposentadorias. Acharam que vai pagar a conta.
A inflação persiste. O desemprego persiste. A fome continua trazendo dor e angústia. A tão propalada redução do preço da gasolina já tem data para terminar. Em alguns Estados brasileiro o preço dos combustíveis já está começando a subir novamente.
O elevado grau de endividamento dos brasileiros e, como consequência, o alto nível de inadimplência compromete brutalmente a capacidade de consumo do brasileiro.
Diante disso tudo, a única pergunta é: o que fazer?
Estamos em uma encruzilhada e não podemos continuar mais dessa forma.
Quando essas linhas vierem a público já saberemos os resultados do processo eleitoral que se desenrola no Brasil. Saberemos quem serão nossos próximos representantes na câmara federal, estadual e no Senado.
Saberemos também quais foram os governadores eleitos, em alguns Estados talvez já no primeiro turno. Em outros, poderemos ter um segundo turno.
Saberemos também o que aconteceu com a eleição para Presidente da República, o cargo que provoca mais interesse de todos. Por questões óbvias.
Mas, mais importante do que sabermos quem foi eleito e quem não foi, é que todos nós entendamos a importância desse ato que muitos acham, infelizmente, que não tem nenhuma importância. Afinal, quem já não escutou alguém dizer, com o peito inflado de orgulho, que detesta política, que não gosta de política, que político é tudo igual.
Esse é o grande erro do brasileiro!
Afinal, não adianta reclamar que não gosta de política, que não gosta de político, que o dia das eleições é visto como um momento para viajar. Reclamar que político é tudo igual, que todos roubam, que são todos ladrões se tornam palavras ao vento sem que nada façamos para mudar nossa percepção da realidade.
Não adianta reclamar por um motivo muito simples e que muitos não entendem ou não querem entender. Uma pessoa se torna um representante não por vontade divina ou vontade demoníaca. Uma pessoa se torna um representante do povo através do VOTO e esse voto é dado por todos nós, inclusive por aqueles que dizem, orgulhosos, que detestam política e por isso votam de forma inconsequente.
Se não queremos um político corrupto que façamos nossas escolhas com coerência. Com justiça e não por interesses espúrios. Não baseado em fofocas recebidas em redes sociais e sim pela compreensão das propostas de cada um.
Na escolha que devemos fazer temos que pensar em quais são nossos principais problemas e como eles foram causados ou ampliados. Desemprego! Fome! Violência! Corrupção! Pobreza! São muitos, infelizmente.
Quais são as propostas colocadas na mesa? É fato que o desemprego aumentou nos últimos 3 anos. É fato que nos últimos 3 anos, 33 milhões de pessoas vão dormir todas as noites sem saber o que vão comer no dia seguinte. A violência é cada vez maior e pessoas, agora armadas, agridem e matam por questões mínimas. Se é que existe uma questão que justifica a morte de outra pessoa!
É fato que a atual política econômica fracassou completamente. Uma enorme e brutal concentração de renda, salários cada vez menores, desemprego, fome, inflação. E aqui cabe uma pergunta. Por quê insistir em medidas que comprovadamente se mostraram e se mostram falhas?
Como mudar isso? Ora, muitos dirão que esse não é um problema deles. Que o que precisam fazer e continuar a trabalhar e pagar seus boletos. E enfiam a cabeça na terra como dizem que os avestruzes fazem.
E é exatamente por enfiarem a cabeça nesse buraco que é esse mundo isolado da realidade que os descalabros políticos acontecem. Afinal, se sou político e ninguém se preocupa com o que faço, a corrupção se torna uma isca tentadoramente fácil. E de corrupção não estou dizendo que é ato exclusivo da classe política. Se existe um corrupto existe um corruptor e esse geralmente vem da iniciativa privada buscando, espertamente, garantir seus interesses privados.
Se continuarmos com a cabeça enfiada em um buraco, adiantará alguma coisa gritar aos quatro ventos que odeia política? Gritar a esses quatro ventos que se recusam a escutar é um ato político. Não fazer nada também é um ato político. Depois não adianta reclamar pois a Inês já faleceu.
Não saímos de casa sem agir politicamente. Não trabalhamos sem agir politicamente. Não vivemos, não namoramos, não nos divertimos sem agir politicamente.
Sentar na porta de casa para falar mal dos vizinhos é um ato político.
Política é isso. Viver em comunidade é um ato político.
Não há como evitar.
Um novo ano se inicia e, como sempre acontece, com muitas esperanças que velhos problemas se resolvam e que possamos ter um ano de 2023 tranquilo, sem sobressaltos e nem sustos.
2022, o ano que se encerrou é daqueles anos que todos queríamos que nem tivesse começado. Um ano que trouxe muito stress, muita preocupação e muito desânimo.
Talvez algumas pessoas possam discordar da minha opinião considerando que, e isso é um fato, a crise econômica não atinge a todos do mesmo modo e isso é um fato concreto.
Se de um lado temos milhares de pessoas procurando emprego sem nenhum tipo de renda que não as várias formas de ajuda assistencial estatais, se temos cerca de 60 milhões de pessoas jogadas na linha de pobreza com salários insuficientes para garantir a sobrevivência do trabalhador e de toda a sua família, de outro lado temos alguns milhares que se enriquecem, que concentram renda, que acumulam capital e que justificam seu enriquecimento em uma crise por uma simples questão de mérito.
É esse o Brasil que temos. Uma grande parte da população que vive e sobrevive com salários insuficientes para comprar mesmo que seja uma cesta básica e outra parte, essa pequena, acumulando renda advinda de ganhos financeiros e especulativos, aquela velha história de ganhar sem trabalhar. Afinal, estamos falando de um trabalho improdutivo!
O governo eleito, que tomou posse no início do ano, terá como grande desafio reduzir essa enorme defasagem de renda, a enorme diferença entre o menor salário pago e o maior salário pago, diferença essa que chega a absurdos 400 vezes mais.
Não é possível que um país consiga crescer, consiga se desenvolver com essa diferença salarial absurda.
Talvez alguns perguntem se para resolver isso teríamos que reduzir os salários mais elevados colocando aqui uma crítica a esse argumento, mas poderíamos replicar que não é nivelando por baixo que resolveríamos situações como essa.
Temos que entender que a geração de renda em uma economia é fundamental para que essa economia consiga crescer, consiga se reproduzir e consiga garantir condições materiais dignas de vida. Salário para muitos é custo, mas para muitos é receita. Salário para muitos é condição de consumo, de sobrevivência e não podemos mais viver em um ambiente no qual o empresário achata brutalmente os salários pagos a seus funcionários e ao mesmo tempo critica o baixo volume de vendas.
Temos todos que entender que essas duas variáveis, salário e consumo, ou para melhor generalizar, renda e consumo, estão diretamente interligadas.
Salários menores implicam em baixa capacidade de consumo e mesmo que se diga que pessoas que ganham baixos salários gastam a totalidade de seu salário em consumo, o impacto dessa lógica é reduzido exatamente por ser um baixo salário.
Além do mais, baixos salários geram consumo, mas não geram poupança e é exatamente a capacidade de geração de poupança da sociedade que permite gerar capacidade de investimento privado. É uma lógica simples.
Esse é o grande desafio do novo governo. Gerar crescimento, gerar consumo, gerar poupança e, portanto, tornar o crescimento auto sustentado pela sua própria lógica.
Um feliz ano de 2023 a todos e que o título desse artigo não seja simplesmente retórico.
Estamos curtindo a ressaca do carnaval.
Para muitos, é o ponto de partida do ano de 2020. Várias pessoas argumentam que o ano começa somente após o carnaval, quando os brasileiros, cansados das festas do final do ano, férias no mês de janeiro e o carnaval, resolvem tirar a fantasia e, finalmente (ufa!!!!), ir trabalhar.
Muitos criticam o carnaval. Alguns, por questões religiosas, argumentam que essa festa é pagã e não deveria acontecer pois afasta as pessoas da religião. Muitos aproveitam esse período e procuram retiros religiosos.
Existem pessoas que não gostam. Preferem o sossego, a calma, onde podem curtir sua casa, um bom livro, músicas boas, longe da bagunça e do barulho que caracterizam o carnaval.
Existem também aqueles que consideram o carnaval como uma fonte de alienação, algo como panem et circenses, pão e circo, no bom estilo de uma sátira de Juvenal que denunciava que o império romano usava o pão e o circo como forma de manter afastados aqueles mais críticos de sua política. A ideia por traz desse argumento é que, à medida que o governo dá ao povo pão, alimento, e circo, a diversão, a população deixaria de ter uma visão crítica das ações dos governantes.
Talvez essa lógica de dar o pão fosse funcional no império romano quando o governo dava pão ao povo e dava também a diversão através dos jogos que aconteciam principalmente no Coliseu, em Roma. Dessa forma, mantinha o povo afastado e ainda por cima manipulava as informações.
Voltemos ao Brasil. Seria o carnaval um exemplo claro de pão e circo? Creio que não. Afinal, em primeiro lugar, não há pão e nessa crise ele vem sumindo rapidamente e diante da alta do câmbio, do dólar, vem também subindo de preço.
O carnaval seria, então, uma fonte de manipulação das informações e de alienação do povo brasileiro? Só se considerarmos que o carnaval começa no dia primeiro de janeiro e termina no último dia do ano.
Vivemos em um país onde as informações são manipuladas diuturnamente e, diante da alienação assustadora dos brasileiros, essa manipulação assume patamares também assustadores. Afinal, não tivemos a eleição de um presidente baseada na livre circulação e distribuição de fake news? Não é assustador ver como o brasileiro acreditou e acredita em informações malucas como kit gay nas bibliotecas das escolas, mamadeiras com bicos estranhos e outros absurdos mais?
Para entender a alienação do brasileiro e a facilidade de manipulação das informações, teríamos que discutir a péssima qualidade da educação no Brasil, o papel perverso da imprensa e a falta de visão crítica do brasileiro em relação a tudo que vem acontecendo no nosso país.
O carnaval é, sim, uma festa popular e pode e é usado como uma fonte de críticas sociais. Através da música, através do comportamento, são feitas críticas aos nossos problemas sociais, às nossas dificuldades e às nossas limitações.
Em termos econômicos, essa festa popular é ansiosamente aguardada.
Em 2018, por exemplo, o carnaval movimentou algo próximo a um bilhão de reais na cidade do Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, também em 2018, somente o gasto direto, nas ruas, dos foliões movimentou, apenas nos dias da festa, um valor próximo de 350 milhões de reais, sem contar a movimentação na rede hoteleira, taxis, bares, restaurantes e vários outros tipos de gastos. Era previsto 5 milhões de pessoas nas ruas da capital para o carnaval desse ano. 5 milhões de consumidores gastando dinheiro! Aquele que defender o fim do carnaval nessas cidades, por exemplo, será imediatamente apedrejado.
Essa dinâmica econômica provocada pelo carnaval, definida tecnicamente como efeito multiplicador da renda, é a mesma dinâmica provocada pelo Natal, pelo dia das crianças, pela páscoa e vários outros momentos no nosso dia a dia e, no entanto, ao carnaval são dirigidas as maiores críticas.
Alguns gritam que, enquanto as pessoas brincam nas ruas, os políticos aproveitam para aprovar leis que nitidamente prejudicam a população. Ora, a reforma da previdência foi aprovada no carnaval? A reforma trabalhista foi aprovada no carnaval? A resposta é não, como todos nós sabemos.
Essas duas reformas (?), somente a título de exemplo, prejudicaram e irão prejudicar muito mais ainda os brasileiros e qual é a reação de boa parte da população senão indiferença e desinformação? Tenho certeza que se formos às ruas muitos brasileiros nem sabem o nome do prefeito das suas cidades e muito menos conseguem enxergar criticamente a nossa realidade social.
Não é o carnaval o pão e não é o carnaval o circo. Esse papel cabe à televisão que assistimos sentados no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes.