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    Sábado, 26 Outubro 2024 01:40

    50 anos do Ciclo de Debates Culturais – Registros da história

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    50 anos do Ciclo de Debates Culturais – Registros da história Foto: Reprodução.

    No dia 26 de setembro de 1974 escritores de renome nacional vieram a São Gotardo para um encontro aqui nas terras do Confusão; berço temporal de poetas e pensadores, a década de 1970 é impar sob vários aspectos, a começar pelo lançamento da revista Paca, Tatu.

    É nesta levada que germina a promoção de um 'Ciclo de Debate cultural', e que fez aportar por aqui, cabeças tão distintas do universo intelectual brasileiro. Osvaldo França Junior, Moacir Laterza, entre tantos outros, se reuniram para falar de literatura, audiovisual, Jornalismo e poesia mineira.

    Hoje, passados meio século, o Jornal Daqui rememora aquele encontro nas palavras de um de seus organizadores, o escritor Luiz Sérgio Soares, em parceria com Luiz Fernando Prados. Publicamos abaixo suas lembranças daquele singular evento. Segue também, lançando luzes sob o olhar atento de quem presenciou de perto este Ciclo de Debates, uma crônica assinada pelo escritor Edson Carlos.

    “Reunimos em São Gotardo durante quatro dias, em setembro de 1974, o que havia de melhor na literatura e no mundo cultural mineiro da época, sem patrocínio, mas com o apoio dos colégios e da sociedade. A participação dos estudantes e professores foi grande, com o amplo salão do clube cheio todos os dias e com bastante perguntas.

    Quem foram os organizadores? Eu e Luiz Fernando, que tocávamos o Clube Reunião, demos o pontapé inicial, contando com o Edson Carlos, o Antônio Sérgio Bueno e o Paulinho Assunção na frente cultural juntamente com Tarcísio Melo, Batistinha, Ápis e Julio Prados. Meu pai, Clarimundo Soares, já tinha nos cedido o Clube e emprestou um cômodo, onde funcionou a secretaria informal do evento. Tudo foi discutido e decidido coletivamente.

    Os palestrantes ficaram hospedados em diversas casas da cidade e um grupo deles ficou na Fazendinha dos Padres. Adão Ventura, poeta, ficou em nossa casa. Ele e Jaime Prado Gouveia tinham sido meus colegas de faculdade. Oswaldo França Junior ficou com o Zé Pessoa, que o surpreendeu, conforme relato do próprio doutor, retirando do sapato uma crônica do hóspede que estava dobrada e forrando o calçado.

    Todos eles tinham imensa divulgação e relevo na vida cultural mineira e alguns atingiram projeção nacional: Geraldo Malhaes, cineasta, Luiz Vilela, cronista premiado, Murilo Rubião, Oswaldo França Júnior.

    Surpreendente as palestras de Sérgio Maldonado, sobre a história da pintura, e a fala apaixonada e apaixonante do filósofo Moacir, Laterza, sobre arte e comunicação abordadas com seu saber enciclopédico.

    Houve uma feira de livros e conseguimos doações dos autores e das editoras para a Biblioteca Municipal.

    O ponto alto do evento foi a apresentação na Praça Olegário Maciel-Sagrados Corações, dos grupos folclóricos locais e da feira de artesanato. Nós tínhamos conseguido que o pároco revogasse a proibição do congado, devido à participação de casais que não tinham casado na igreja, e o Congado, o Trança-Fitas e os Catopé, vindos de diferentes pontos da cidade, entraram tocando e dançando na manhã ensolarada, o que deixou os escritores e intelectuais extasiados. Era a festa das culturas, o encontro da universidade com o saber popular, do local com o universal!”

    Luiz Sergio Soares e Luiz Fernando Prados

    “Eu morava em Brasília, estava envolvido com estudos de Linguística e leituras de revisão no MEC, além de lecionar – aquela luta de professor iniciante com filhos de 2 e 3 anos etc. Mas a Literatura envolvia a gente por todos os poros: tanto que emprestei os 7 volumes do Proust para o Ápis, e estava na mais completa proximidade com o Carlos Swan, a Odete, o Barão de Charlus e tantos mais que os anos vão escondendo nos esconsos da memória.

    De repente, vem o convite dos Luís Sérgio e Luís Fernando, e aí foi outra imersão sensacional: a bem da verdade, eu só conhecia 5 dos 19 participantes do Ciclo de Debates, um dos quais eu mesmo. Os outros o Sebastião Nunes, meu colega da Faculdade de Direito UFMG, o Moacir Laterza, meu professor de Filosofia no mosteiro dos dominicanos da Serra BH, o Luís Vilela devido a sua amizade com o Sérgio Bueno, e o Oswaldo França através de seu livro premiado 'Jorge, um brasileiro', contando as peripécias de um motorista viajando para a nova capital. E estes, e mais outros muitos em São Gotardo encontrando-se no Clube onde eu vivera momentos intensos dançando com as menininhas de 15 anos e jogando ping-pong.

    Agora era para conversar sobre literatura. Além de andar com esse pessoal pela rua Governador Valadares e ver os congados na Praça Olegário Maciel, depois de vencer a resistência do pároco sobre a vida privada dos festeiros! Muita emoção, né!

    Disso me lembro bem! Mas só após 50 anos consigo avaliar o arrojo daqueles jovens, que tiveram todo o mérito dos incríveis dias 26, 27, 28 e 29 de setembro de 1974, quando por baixo dos panos aconteciam muitas coisas deploráveis – e a gente mal sabia! Luís Fernando Prados, Luís Sérgio Soares, Ápis, Batistinha, Tarcísio Melo, Júlio Prados, Paulinho Assunção, que promoveram o Ciclo de Debates e certamente já projetavam uma revistinha célebre que viria poucos anos depois: a Paca-Tatu-Cotia não!”

    Edson Carlos

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