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    Terça, 17 Março 2020 16:20

    São Gotardo registra uma média anual de 150 casos de gravidez na faixa etária de 10 a 19 anos

    Escrito por José Eugênio Rocha

    No ano passado, conforme dados da secretaria municipal de Saúde, de um total de 759 partos registrados no município de São Gotardo, em 150 deles as mães estão inseridas na faixa etária entre 10 e 19 anos. Em quase sua totalidade, neste grupo, trata-se de gravidez não planejada. Estudos realizados por profissionais que atuam no acompanhamento pré e pós parto, indicam ainda que em boa parte dos casos as mães são obrigadas a assumir sozinhas todas as responsabilidades, contando unicamente com o apoio da própria família. A maioria das adolescentes que engravida abandona os estudos para cuidar do filho, o que aumenta os riscos de desemprego e dependência econômica dos familiares. Esse fatores contribuem para a perpetuação da pobreza, baixo nível de escolaridade, abuso e violência familiar, tanto à mãe como à criança.

    Outro dado que merece especial atenção é o número de meninas com idade entre 10 e 14 anos que engravidam ainda na chamada fase de puberdade. Nos dois últimos anos ocorreram 18 partos nessa faixa etária. Chama a atenção o fato de que não estamos falando aqui de estupro ou relação não consensual. Aspectos socioculturais explicam a incidência da gravidez precoce. Mas não é só. A precária condição socioeconômica das famílias dessas meninas é na maioria das vezes, causa direta do problema. Reverter as estatísticas depende exclusivamente do desenvolvimento de políticas que combatam a desigualdade social. Campanhas educativas e de prevenção são sempre bem vindas.

    Apesar de ser ainda tra-tado como tabu, o sexo já é assunto preferencial nas redes sociais entre jovens e adolescentes. Neste espaço no entanto reina a desinformação. Cabe às escolas e aos pais a tarefa de esclarecer as dúvidas, de usar a informação como medida preventiva.

    Nossa reportagem con-versou com um especialista no assunto. Maycon Igor Dos Santos Inácio(foto abaixo) trabalha como coordenador permanente na Secretaria Municipal de Saúde. Veja abaixo a entrevista, elencada por tópicos:

    gravidez01 

    Gravidez não planejada

    "Geralmente não são planejadas. Em algumas situações essa gravidez passa também por não ser desejada, e é um impacto muito grande no psicológico dessa adolescente e da própria família. Temos profissionais aqui na secretaria de saúde para orientar e dar o apoio necessário para essa adolescente, principalmente por essas questões de impacto na vida dela e dos familiares."

    Apoio familiar

    "A grande maioria delas às vezes, tem uma irmã ou algum familiar já trabalharam como babá ou cuidadora , então elas entendem que aquele serviço que elas desempenham possa ajudar na maternidade de alguma forma. A maioria delas recebe essa surpresa e elas precisam ser preparadas para ser mãe. O corpo dela, o psicológico dela ainda não está preparado para essa função por mais que ela se apoie em algum familiar ou conhecido."

    Evasão escolar

    “Esse impacto da experiência prematura de ser mãe causa a evasão escolar dessa ado-lescente. Na grande maioria das vezes ela vai se sentir inferior às outras colegas, ela sente uma culpabilização por ela ter se engravidado. A própria sociedade faz essa repressão com ela, ao invés de dar o acolhimento, e ela acaba deixando a vida acadêmica por um longo período, da gravidez ao pós-parto, e até que a criança tenha condições de ficar em uma creche ou com outras pessoas. Durante todo esse tempo essa adolescente acaba não retornando para escola, e quando faz, ela acaba voltando para o Ensino de Jovens e Adultos(EJA) ou supletivo. Já em relação ao parceiro(pai da criança), quando ele é responsável e assume a paternidade, ele também acaba abandonando os estudos. Ele deixa a escola para trabalhar, para tentar ajudar a criar aquela criança."

    Sobre o perfil socioeconômico das jovens e adolescentes grávidas 

    "Geralmente a gravidez na adolescência revela um perfil socioeconômico de vulnerabilidade social, incluindo aí todos os fatores como saúde, psicológico, familiar... Elas vivem em moradia de baixa renda, em precária situação financeira ."

    A gravidez vem de uma relação consentida, ou não ? 

    "Geralmente a gravidez veio de uma relação consentida, mas na maioria das vezes não é parceiro fixo. A maior parte vem por impulso mesmo. O próprio parceiro que as vezes, não que imponha, que force, mas que de maneira sutil vai induzindo a adolescente: "se você ficar comigo, se a gente ter relação, você vai provar que me ama...". Isso acaba induzindo muito a jovem, que às vezes está ali no seu primeiro relacionamento, num estado de paixão, então, essa situação também é muito comum: esse forçar do parceiro mas de uma forma bem discreta."

    No caso das medidas preventivas, existe uma pressão do parceiro para não usar preservativo.

    "Existe um tabu muito grande ainda em relação ao preservativo: alguns dizem que tira a sensibilidade, que vai tirar a sensação de prazer. Muitos homens não gostam, principalmente nessa faixa etária. Outra situação que acontece também é o uso indevido, o uso incorreto. Às vezes a pessoa acha que sabe usar e não sabe, que aquele preservativo que fica na carteira esperando uma hora dar certo, ou fica no porta luvas do carro, e quando vai usar ele já não é 100% seguro. Então, todas essas situações pode gerar uma gravidez, ou uma infecção sexualmente transmissível."

    A desinformação também tem um papel importante na gravidez não planejada.

    "Principalmente quando a gente vai lidar com o pai da criança ou namorado, a grande maioria dos homens acham que detém todo o conhecimento necessário, e a gente sabe que não é verdade. Quando ocorre essa relação consentida mas sem uso do preservativo é porque na maioria das vezes o casal não sabe usar, tanto a menina quanto o menino não sabem usar o preservativo."

    Sobre as campanhas de prevenção da secretaria municipal de saúde 

    "Em nossas campanhas tentamos manter o foco multidisciplinar, levando profissionais de diferentes áreas, abordando o mesmo assunto, levando a informação de uma forma mais leve e eficiente pra o nosso público. Durante todo o ano são realizadas essas ações tanto nas escolas, através do Programa saúde na escola, como em parceria com outros departamentos, o CRAS, o CREAS, o próprio Conselho Tutelar e o Conselho da criança e do adolescente. Estas campanhas abordam além da gravidez, complicações causadas por uma relação sexual desprotegida."

    A informação é arma mais eficaz na prevenção 

    "Para cada faixa etária vamos usar uma linguagem diferente, vai ter uma abordagem diferente, mas de forma que a mensagem seja passada e ela se multiplique, que ela chegue em casa, que conte aos pais o que aconteceu, que os pais tenham ciência do que foi falado, para que eles também tenham o papel de educadores da saúde. Que essa responsabilidade não fique só com a escola, não fique só com os profissionais de saúde, é muito importante que os pais também estejam presentes nessa discussão."

     

    gravidez02"Em nossas campanhas tentamos manter o foco multidisciplinar, levando profissionais de diferentes áreas, abordando o mesmo assunto, levando a informação de uma forma mais leve e eficiente pra o nosso público.” Maycon Igor Dos Santos Inácio na Secretaria Municipal de Saúde.

    A fase adolescente mudou no decorrer do tempo. Pode-se afirmar que as concepções de gravidez precoce no passado eram diferentes das atuais. Décadas atrás a maternidade na adolescência era geralmente associada a um matrimônio estável, sendo vista como normal e aceitável. A mulher era, portanto, preparada para a maternidade logo no início da puberdade. Atualmente, a gravidez na adolescência é geralmente vista como um fator que altera o ciclo natural do desenvolvimento dos jovens, contrariando a expectativa contemporânea de que a maternidade só deve acontecer após a conclusão dos estudos, a obtenção de uma profissão, de um emprego e/ou casamento ou casa. A gravidez precoce surge como problema para a família contemporânea no sentido de que provavelmente a jovem mãe terá que abandonar os estudos, enfrentará dificuldade para conseguir emprego e para nele se manter, tornando-se dependente da família para sobreviver.

     

     

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