Em minhas andanças, poucas vezes me deparei com um Coração grande. Eles estão espalhados por aí, e é bom ficar atento. Zé Milica, nosso entrevistado de hoje, pertence a este seleto grupo de alma iluminada. Quando o vejo passando pela rua, vou logo me aproximando, e ao me ver, distribui logo um sorriso, me conta uma piada, e seguimos em frente. E meu dia já não será o mesmo.
Que apelido é esse, Zé Milica? Vou logo perguntando. Ah, foi tudo por causa de um erro de ortografia. Minha vó se chamava Vilica e resolveram por conta própria trocar o V pelo M, e assim ficou. Não gosto de ver ninguém triste, confessa ele.
Dono de oficina de Lanternagem, trabalhou a vida inteira no ramo. Nas horas, nem tanto vagas, exerce também a profissão de cantor: fez do palco, seja na igreja ou em quermesse, uma extensão de sua vida, distribuindo em alto e bom som as alegrias do viver.
Pra gente começar a nossa conversa, seu nome de verdade, qual é? José Avelino de Oliveira. Mas ninguém conhece, né?
É verdade que certa vez, você se esqueceu do seu nome de batismo? Fui fazer uma consulta em Belo Horizonte, quando eu machuquei meu olho. Aí, minha esposa fez minha ficha, e a secretária chamou: "Senhor José Avelino de Oliveira”, e eu estou quietinho, conversando lá."Senhor José Avelino de Oliveira”... E eu na hora nem percebi. Aí minha esposa me deu empurrão. Eu já costumei me chamar de Zé Milica, né?
Conta pra gente a história de como é que surgiu esse apelido. Eu comecei a trabalhar ainda garoto na oficina, e a oficina é o lugar que mais pega apelido. Rapazinho novo? Aí o dia eu cheguei para trabalhar e o dono falou, ah, esse é o Zé Milica, e Zé Milica pegou. Porque minha bisavó chamava Vilica, e ele trocou o V por M, e assim ficou. Aí, depois vieram os filhos, e ficou tudo Milica: Gustavo Milica, Otávio Milica... e ficou desse jeito.
E como é essa sensação de alguém de repente mudar o seu nome? É preciso um tempo para acostumar? A oficina é o seguinte, se você apelar, pega. Se você não apelar e se acostumar, pega a mesma coisa. O povo gosta de apelidar pra te fazer raiva. E na época eu comecei a apelar. Depois eu vi um dia que não adiantava ficar bravo, já tinha filho, já era tarde. E acabei me acostumando, e depois, gostando do meu novo nome.
Pois é, e até hoje trabalhando na oficina, mas também, cantor famoso... Graças a Deus. Sou muito popular, né? Só alegria mesmo. Virou nome artístico. Em todo lugar que eu for é Zé Milica. Você fala meu nome certo, e ninguém conhece.
Quantos anos, Zé? Segunda-feira agora, dia 15 de setembro, eu vou fazer 67.
Então a gente já aproveita e faz uma homenagem pra você lá no jornal. Mas que beleza, muito obrigado. Nasci em São Gotardo, aqui mesmo.
Você tem quantos filhos? Eu tenho 5 filhos, 3 do primeiro casamento e 2 de segundo. Muito feliz, graças a Deus.
Ama essa terrinha, não é? Adoro. Muita amizade aqui. Eu plantei muita amizade, mesmo fora, qualquer lugar que eu esteja, graças a Deus.
Acho que você conhece todo mundo de São Gotardo. Estou certo? Graças a Deus, conheço todo mundo. Se eu ando na rua, é muito difícil chegar ao meu destino. Eu encontro com um, com outro, e é um assunto, e a gente brinca, conversa, conta uma piadinha... Eu não gosto de ver ninguém triste.