Sem querer falar sobre um tema que já tratamos aqui em vários momentos, mas, reconheço, estarei me repetindo, vamos pensar em uma lógica que para muitos chega a ser próxima de escandalosa.
Estou me referindo aqui à necessidade da ocorrência de gastos públicos, ou pensarmos nas prefeituras, nos Estados e na União gastando dinheiro realizando obras públicas.
Mesmo sabendo que é um assunto mais do que pisado e sim, repisado, acho estranho quando vejo economistas, gestores, analistas, jornalistas, palpiteiros e outros mais gritando aos quatro ventos que não se deve gastar ou se o gasto é necessário que seja um gasto responsável. Dai algumas questões tornam-se relevantes. A primeira, por exemplo, o que seria um gasto responsável? Segunda, por que não gastar (pensando aqui nos órgãos públicos) e mesmo assim, por que sempre que se fala em gasto se compara com o comportamento familiar no qual educadores financeiros apregoam a todos os ventos a necessidade de economizar, de guardar dinheiro, de não gastar e por aí vai.
São várias as maneiras de enxergar o mesmo problema. Não afirmo aqui que a poupança não é necessária. Muito pelo contrário. Caso os indivíduos e mesmo as empresas tenham necessidade de adquirir bens, a poupança se torna um caminho para se atingir um objetivo proposto. Pensando em termos macroeconômicos, a geração de poupança será o ponto de partida para a realização de investimentos, considerando aqui que os recursos poupados serão investidos no mercado financeiro e estas instituições, os bancos, se encarregarão de agir como fonte de repasse dos recursos poupados para os agentes chamados de deficitários.
A lógica é simples. Eu poupo, coloco meu parco dinheirinho no Banco, o Banco por sua vez empresta meu dinheiro para alguém e esse alguém irá investir esses recursos onde lhe for mais necessário.
É o momento de perdermos o sono por saber que meu dinheiro anda por aí nas mãos desconhecidas? Obvio que não! O sistema financeiro funciona assim aqui e no resto do mundo. O dinheiro poupado volta para o circuito produtivo dessa forma permitindo que os novos investimentos gerem mais empregos, mais renda e por sua vez, mais poupança. O mundo gira.
Agora, quando pensamos no governo, fica um pouco diferente. Se nos são cobrados impostos, esse dinheiro sai da circulação do consumo e fica esterilizado nos cofres desse governo. Se a carga tributária aumentar, aumenta o montante dos impostos recolhidos e se a alíquota dos impostos é aumentada, da mesma forma aumenta o volume dos recursos parados nas mãos do governo.
Assim, esse dinheiro deve voltar para nós na forma de gastos públicos. Escolas, estradas, saneamento básico, segurança pública, etc.
Nesse momento alguém levanta aos berros dizendo não ser contra o gasto e sim ao déficit público que acontece quando o governo gasta mais do que arrecada. Temos que gastar com responsabilidade, alguém continua gritando e completa dizendo “lá em casa eu faço assim.” “Não gasto o que não tenho”.
Qual a resposta lógica? E daí? Você não emite moeda e nem arrecada impostos. Só os paga.
Essa é a grande diferença. A existência de um déficit não é um problema. Todos os países do mundo têm déficit e não há ninguém estarrecido por isso. Todos elogiam a China, mas esquece de afirmar que esse país vem crescendo com gastos expressivos do governo e um déficit público perfeitamente administrado.
Esse é ponto. Quando se associa o déficit a uma taxa de juros “criminosa” temos o Brasil. E não adianta dizer que os juros altos são consequência do déficit. Seria mais fácil entender que o déficit é consequência dos juros e não o contrário.
Irresponsável não é o gasto e sim, transferir bilhões todos os anos para a banca financeira e usar o déficit como desculpa.