Logo topo

    Terça, 23 Setembro 2025 22:40

    Lá se foi o Julinho do Zé do Lino

    Ele e o Wado eram os beques do time do União, que fez partidas memoráveis contra o Sgryma do João do Samaria e do Paulo do Gabrilin, o primeiro um atacante completo e o Paulo com um chute fortíssimo, rivalizando com nosso ataque, com o craque Tarcísio do Lipran e o Luiz Roberto que lembrava o Evaldo do Cruzeiro ou o Dida do Flamengo. Tenho a flâmula com o genial slogan: “Adão não se vestia porque o Samaria não existia”.

    Pois é, o Wado tinha furado a fila na lista que ele levava para os velórios e abordava quem estava mal de saúde e dizia: “Ei, fulano, se cuida, pois você é o próximo da lista!”

    O Humberto do Ciro Franco tinha chegado antes e disse para São Pedro: “Não vou entrar agora, não, porque gente de São Gotardo não chega aqui sozinho, vou esperar o Julinho para entrarmos juntos.”

    Um pouco antes tinha chegado a minha amiga Abadia, do Curso de Contabilidade no Prédio Amarelo, amizade que se estendeu a BH, onde a reencontrei. Quando ela ouviu a prosa do Humberto, falou que também ia esperar e ele contou que tinha sido meu colega no Afonso Pena.

    Meu primo merecia estar numa das tragédias de Shakespeare, num dos romances de Gabriel Garcia Márquez ou numa crônica do Nélson Rodrigues, pela farsa de que foi vítima e que o impediu de voltar a nossa terra durante anos. Situação enfrentada por ele com a dignidade do silêncio, pois eu, pelo menos, nunca ouvi dele nada a respeito.

    Ele tinha um humor fino, uma presença de espírito diferenciada e bebia com elegância, chegando inteiro ao final de nossas festas ou farras.

    Zé Eustáquio, meu irmão, foi à nossa terra e, no sábado, morreu alguém, o que se repetiu no sábado seguinte. O Julinho, ao se encontrar com ele, no domingo de manhã falou: “Zé, não é por nada não, mas você podia espaçar um pouco suas vindas...”

    Ele teve a felicidade de viver um grande amor com a Rita Londe, bem humorada e positiva como ele, que merece a gratidão de todos nós que o estimávamos pela dedicação e carinho com que trilhou junto a ele as sendas e veredas de seus últimos passos por aqui.

    Antes de terminar, devo registrar que a minha defesa tinha também o Luiz Fernando, da Aída, o Marquinho, meu irmão, e a gente poderia lançar mão do Fernando da Ester, o que não invalida o título desta crônica, pois a saudade dos dois que já se foram é muito grande.

    Não posso deixar de registrar uma grande lição que recebi dele. Comentei com ele que o papai estava perdendo dinheiro no Armazém, pois vendia fiado e recebia pelo valor do dia da compra, quando o freguês vinha pagar, depois do dia da poupança, em tempos de inflação galopante; ele me disse: “O Padrinho está ganhando anos de vida...”.

    Descansem em paz, Abadia, Humberto e Julinho. Nossa vida fica mais triste sem vocês.

     

    Encontre-nos

    Edição atual

    jd187 pag01

    © 2025 Jornal DAQUI - Todos os direitos reservados.