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    Terça, 23 Julho 2024 21:35

    José Domingos Pereira, um homem à frente de seu tempo

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    na foto, o patriarca José Domingos Pereira ao lado de sua esposa Terezinha, durante encontro com o governador do estado de Minas, Aureliano Chaves na foto, o patriarca José Domingos Pereira ao lado de sua esposa Terezinha, durante encontro com o governador do estado de Minas, Aureliano Chaves Foto: Reprodução.

    Passos que ficam

    A biografia de um homem pode ser contada sob variados ângulos e prismas. Em meio a essa aparente diversidade, o legado que deixa é o que de fato nos interessa. Inscrito muitas vezes nas entrelinhas ou nos versos monótonos de um oficioso cotidiano vemos emergir sua real natureza, aquilo que o diferencia dos demais.

    Tecida fio a fio, ano a ano, a despeito das limitações impostas pelas circunstâncias e pelas adversidades da vida, sua obra pode ser melhor compreendida e percebida nos efeitos que produz nas pessoas à sua volta, e com especial vigor, no seio de sua família. Dito isso podemos, sem embaraço, dar-lhe a devida relevância, sua real dimensão.

    A HISTÓRIA

    Ao emprestar o nome como insígnia da nova marca "Instituto Domingos Pereira", o patriarca José Domingos Pereira - in memoriam - vê consolidar, como fruto de seu legado, o devido reconhecimento por tudo aquilo que construiu ao longo de sua vida. Apropriada à finalidade que se destina, a homenagem é bem mais que uma expressão de reconhecimento e gratidão. Ela traduz o espírito de um homem que soube como poucos o sentido da palavra determinação. O desejo sempre latente de trilhar novos caminhos, romper fronteiras, era uma de suas marcas. Esta vocação reverbera com singular intensidade nos fundamentos em que se edifica este novo modelo de atendimento odontológico, o "Instituto Domingos Pereira".

    Nada mais justo, portanto, para esta oportunidade, que relembrar em breve relato um pouco da trajetória profissional e familiar do homenageado.

    O primeiro e definitivo encontro

    Naquela longínqua noite, lá no início da década de 1950, a menina moça Terezinha, mulher que viria a ser esposa e mãe de seus filhos, se encontrou pela primeira vez com o jovem José Domingos. Ela relembra: "Eu estava na praça com as amigas e vimos ele passar, indo pro seminário onde fez o ginásio. Deu-se início à uma disputa, com a seguinte condição: aquela que conquistasse o jovem galante teria que pagar uma rodada de sorvete para todo o grupo de meninas. Pra minha surpresa ele me chamou e disse então que me levaria em casa. O que eu faço agora, meu Deus? pensei! Ele me deixou na casa do vovô e pouco depois eu voltei pra praça, e para meu espanto, todas já estavam com sorvete na mão".

    "Daí, depois daquele primeiro encontro, não tive mais notícia dele. Só me lembro dele dizer que iria pra Uberaba estudar: queria ser dentista. Passaram-se seis anos até o nosso segundo encontro. Eu estava próximo à rodoviária de Rio Paranaíba quando vi um rapaz descendo do ônibus com uma malinha e um terno de casimira. Fui vendo e conhecendo. A gente começou um namoro, que durou um ano. Ficamos noivos no dia 25 de dezembro. Ele perguntou por que eu nunca respondi às cartas. Mal sabia ele que eu tinha dado endereço e nome falsos, pois mal o conhecia".

    "No dia 14 de janeiro de 1956 nos casamos, e no dia 25 daquele mesmo ano nasceu Zé Alexandre, nosso primeiro filho."conclui D. Terezinha.

    Logo depois do casamento o jovem casal se muda para São Gotardo, onde José Domingos instala consultório e começa a atender a clientela do lugar. Homem de prosa larga, em pouco tempo conquistou a confiança de todos: "O serviço era em primeiro lugar. Levantava de madrugada. Ele que fazia as próteses", e D. Terezinha ressalta: "José sempre teve essa magia de conquistar pela prosa, pela presença sempre agradável e confiança. Deixava a pessoa descontraída. Era um profissional que conquistava, acima de tudo, pela qualidade do trabalho".

    O curso que frequentou em Uberaba não lhe deu diploma, mas acendeu nele a sede de aprender mais e mais, e nunca deixou a desejar em relação aos seus colegas de profissão da cidade. Sua esposa acompanhou de perto, passo e passo: "Estudou a vida inteira, tava na frente de todo mundo, equipamentos, prótese etc., sempre atualizando. Assinava revista e estudava. A prótese dele era perfeita. Desde que começou era um dentista de mão cheia". Com o passar dos anos os filhos foram chegando. Depois do Zé Alexandre vieram o Márcio, a Ana Lúcia, a Márcia, o Zé Humberto, o Marcos e por fim, a caçula Débora.

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     Uma profissão como herança

    Pai rigoroso e exigente que era, não dava moleza pros filhos. Frequentar a escola era obrigação primeira. Nunca impôs seguir carreira de dentista, mas quando percebia em algum deles o gosto pela coisa tratava logo instruir, na prática, as primeiras lições. Assim foi com os filhos Márcio e Ana Lúcia, que ainda adolescentes já ajudavam na confecção das próteses. Convencidos pelos primeiros contatos no velho consultório seguiram os passos do pai. Ingressaram na faculdade e se formaram em Odontologia. "Quando o Márcio se formou o Zé dividia seu tempo entre o consultório e a fazenda. Às vezes nem tirava a botina para atender seus pacientes" lembra D. Terezinha. Da geração mais nova coube ao filho Marcos fechar o círculo de influências. Ao seguir a trilha dos irmãos Márcio e Ana Lúcia soube dar continuidade ao legado profissional do pai.

    foto placaNa placa de inauguração do Parque de Exposições de São Gotardo( 1982), inscreve-se para a história o nome de José Domingos Pereira, presidente do Sindicato Rural à época

    "Ele foi um homem que quando entrava numa coisa era pra valer. Tanto na odontologia como na agricultura."

    foto seminaristasNa última fileira, em pé, o aluno seminarista José Domingos

    Agricultor, uma segunda profissão

    Não se sabe de onde surgiu o gosto pelo campo, mas tão logo pode, juntou as economias e investiu na compra de uma fazenda lá na região das Bateias. Foi naquela mesma época que lançaram o Padap. Zé Domingos foi um dos poucos nativos da terra a fazer frente à inédita ocupação do cerrado pelos imigrantes japoneses. Foi um dos primeiros a cultivar soja naquelas terras áridas. Como nas artes da odontologia, não se acomodou e foi atrás daquilo que não sabia, tratando logo de aprender os segredos daquela nova paixão: "Antes do Marcio se formar o Zé ia pra Batatais estudar agronomia com Ganimedes, Dr. Fausto.. . "Um espírito irrequieto". "Ele foi pioneiro no plantio de soja, etc. A EMATER deu um prêmio a ele pelo reconhecimento de sua contribuição ao desenvolvimento agrícola da região do PADAP. Foi um homem que quando entrava numa coisa era pra valer, tanto na odontologia como na agricultura." conclui ela.

    Capacidade comprovada, não demorou muito para que a classe produtora percebesse nele o nome ideal para conduzir o Sindicato Rural. Ao assumir a presidência da instituição tratou logo de deixar sua marca. No novo cargo conduziu de maneira decisiva a pavimentação de um antigo sonho: a construção do Parque de Exposições, uma conquista que elevou a um patamar inédito as potencialidades da agricultura e pecuária do município. Do profissional ao homem público, José Domingos nos deixa contribuições de inegável e inestimável valor. Seu legado está inscrito no panteão de nossa história.

     

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