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    Quinta, 15 Novembro 2018 11:24

    Uma fábula chamada Brasil.

    Escrito por Leonardo Camisassa

    Encerradas as eleições e escolhido um presidente e depois de um processo eleitoral desgastante diante de todos os percalços encontrados como as notícias falsas, ou, para ficarmos antenados aos nossos tempos, as fake news, diante de todas as desavenças, todas as brigas e dissabores que marcaram as eleições brasileiras, vamos relaxar um pouco e falaremos de um grande contador de histórias que a humanidade produziu.

    Estamos falando de Esopo, grego, nascido no século VI a.C., figura quase lendária que nos deixou várias fábulas, algumas muito conhecidas como a da cigarra e a formiga, a lebre e a tartaruga, o leão e o rato e várias outras, algumas não muito conhecidas, mas bem interessantes que hoje, pleno século XXI, diante de tanta tecnologia, ainda assustam por sua capacidade de ser adaptada a nosso tempo.

    Uma delas trata das rãs que queriam um rei.

    Uma fábula curta, mas, se lida com atenção, pode nos dizer muita coisa. Ele nos conta a história de um grupo de rãs que viviam em um lago onde imperava uma grande anarquia. Cansadas e irritadas do caos, desejando mudanças, enviaram uma delegação a Zeus e dele exigiram um rei que pudesse organizar a vida no lago acabando com a bagunça e todo desgoverno da lagoa.

    Zeus, como nos diz Esopo, achando as rãs ingênuas, jogou um pedaço de madeira na água e disse a elas que esse pedaço de madeira era o novo rei. As rãs, de início assustadas, nadaram para o fundo da lagoa e, percebendo que a madeira permanecia imóvel, flutuando na água, perderam o medo e começaram a zombar do novo soberano ao ponto de montarem em suas costas e por lá ficarem.

    Ainda mais irritadas e se sentindo enganadas por Zeus a ele voltaram e pediram outro rei só que, diferente do atual, mais enérgico e o deus, atendendo ao novo pedido, envia não outro pedaço de madeira, mas uma hidra para ser o novo rei das insatisfeitas rãs.

    Um pequeno parêntese aqui. Hidra é uma figura da mitologia grega, um monstro que possui corpo de dragão e várias cabeças de serpente. A mais famosa delas é a hidra que habitava o lago de Lerna, na Grécia.

    Fechado o parêntese e voltando à nossa história, a hidra, ao assumir o posto de novo rei da lagoa, como era de sua natureza, avançou sobre as rãs e as devorou.

    Qual o sentido, ou, qual a moral que está por trás dessa fábula? O que é melhor para uma sociedade, um governante que traga sustentação para essa sociedade, mesmo que lento como um pedaço de madeira flutuando placidamente na água ou um governante enérgico, mas que dissemina o terror na sociedade?

    Essa foi a questão que envolveu e ainda envolve todo o processo eleitoral e mostra o rosto atual da sociedade brasileira. Qual o tipo de sociedade que precisamos? Qual o tipo de governante que precisamos? Alguém que transmita à sociedade tranquilidade para encararmos nossos gravíssimos problemas ou alguém que nos traga medo e incertezas?

    Foi feita uma escolha pela sociedade e como essa escolha foi feita através de um processo legítimo e democrático, a decisão deve ser respeitada. No entanto, o que nos espera? Teremos um pedaço de madeira ou uma hidra que irá sentar na cadeira presidencial? É através do terror, do medo, que resolveremos nossos problemas?

    Não creio.

    Devemos, isso sim, debater, colocar para a sociedade todos os nossos problemas, buscar soluções através do envolvimento de todos os setores da sociedade e para isso todas as propostas deveriam ter sido colocadas na mesa. Porém, infelizmente, como o processo eleitoral transcorreu sem debate de ideias, sem sabermos o que foi proposto a nós pelos próximos quatro anos, como decidir?

    Após as eleições, algumas medidas estão sendo anunciadas, todas a conta-gotas. Redução das alíquotas de importações, utilização das reservas cambiais para pagamento de dívida, críticas à prova do Enem, dentre outras. São medidas benéficas ou não? O que está sendo debatido? Esse é um ponto importante. Todas elas anunciadas após o encerramento das eleições. Por que não antes? Por que essas medidas não foram apresentadas durante as eleições para que a sociedade se envolvesse nessa decisão? Afinal, se trata do nosso futuro e isso é muito importante.

    Do que precisamos? Um pedaço de madeira ou uma hidra?

     

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