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    José Eugênio Rocha

    José Eugênio Rocha

    Nos últimos 4 anos 14 deputados indicaram recursos para São Gotardo através das chamadas Emendas Parlamentares, totalizando R$24.535.000,00.

    Apesar do prazo elástico de 14 anos, São Gotardo não conseguiu cumprir a meta estabelecida de se instalar um Aterro sanitário.

    Com aprovação na Câmara, Prefeitura tem o recurso liberado para concluir processo de desapropriação da área nobre entre os dois canteiros da Praça São Sebastião.

    É prerrogativa da Prefeitura o direito de incorporar um imóvel privado ao Patrimônio municipal, desde que obedecidos alguns preceitos legais. Diferente das negociações de mercado, além de ser avaliado por profissionais competentes, o bem a ser incorporado deve antes ser objeto de um processo de desapropriação, sendo resguardado ao dono do imóvel o direito inalienável ao devido ressarcimento financeiro.

    Cumpridos os trâmites e preceitos legais e confirmado o Interesse público, a Prefeitura de São Gotardo deu andamento ao processo de desapropriação de uma Área localizada entre os dois canteiros da Praça São Sebastião.

    O respectivo espaço, com superfície de 736m², foi previamente avaliado por três corretores imobiliários. Os valores apontados nas consultas serviram de base para as negociações entre as partes, chegando-se à cifra consensual de R$2 milhões de reais. Capital este, já reservado em caixa para efetuar o pagamento. Não havendo contestação judicial sobre o valor por parte do proprietário, o processo entrou em uma nova etapa.

    É comum nas administrações municipais a necessidade de alocar ao longo do ano recursos entre uma pasta e outra, o que se dá mediante aprovação pelo Poder Legislativo da chamada verba suplementar. Por esta razão, a liberação deste montante de R$2 milhões de reais aguarda aprovação na Câmara. Salvo esta regra de ordem burocrática, o Poder Executivo tem autonomia para deliberar sobre processos de desapropriação.

    A recente negociação teve início em maio deste ano, e deverá ser concluída – ou não – com a votação em plenário de um projeto de Lei na Câmara Municipal. Por esta razão, entrou em cena o critério político, que de uma maneira ou outra, será determinante no desfecho final.

    Alheia ao papel intrínseco de guardiã do Patrimônio público, a Prefeitura em nenhum momento, ao longo de 26 anos, se interessou em corrigir este erro histórico que foi a venda da respectiva área da Praça São Sebastião.

    E agora em 2024, postergada por quase 3 décadas, está em curso uma iniciativa de reparação pelo erro, que ao final, foi praticado pelo próprio Poder Público municipal, cabendo a este a implícita responsabilidade em repará-lo. Pela primeira vez, ao longo de todo esse tempo, bate à porta a oportunidade de cicatrizar esta ferida aberta bem no coração da cidade.

    Ode à Praça    

    Imagine você na sala de espera de uma estação ferroviária aguardando por décadas a hora do embarque. Quando finalmente o som do apito anuncia que é chegada a hora de partir, alguém lhe diz que ainda não é momento adequado, sem informar, no entanto, quando o trem passará novamente. Um misto de frustração e decepção invade o passageiro de primeira viagem. 

    Há quase 30 anos, São Gotardo aguarda pela reparação de um erro histórico: a venda de uma fatia da Praça São Sebastião. Logo ali, no berço onde tudo germinou.  Espíritos do passado se reviram na terra ancestral e ecoam seu lamento sob a cruz ali fincada.  Persistente e incômoda, impossível ignorar aquela ferida aberta bem no coração da cidade.

    Por todo esse tempo – quase 3 décadas - o Poder público omitiu-se da responsabilidade de cicatriza-la. Passaram prefeitos, vereadores, entoando um silêncio sepulcral, surdos ao lamento de espíritos ancestrais e também dos vivos que por ali transitam nos dias de hoje, e vivem se perguntando: por que este vazio imenso no coração da cidade?

             

    Terça, 19 Novembro 2024 00:17

    Os primeiros migrantes do Norte/Nordeste

    Foi em meados da década de 1990 - há 30 anos, portanto - que se deu início ao fluxo migratório das regiões norte e nordeste do Brasil, onde trabalhadores e suas famílias aportaram em São Gotardo na expectativa de melhores condições de vida

    Perto de deixar o cargo, Denise Oliveira faz um balanço de seu mandato à frente da Prefeitura de São Gotardo nesta entrevista ao Jornal Daqui.

    Naquele ano, quando se concretizou a transferência do público para o privado, não se sabia dos imbróglios e simbolismos que tal área ostentava em suas origens, nada menos que o berço de fundação de uma cidade.

    No dia 26 de setembro de 1974 escritores de renome nacional vieram a São Gotardo para um encontro aqui nas terras do Confusão; berço temporal de poetas e pensadores, a década de 1970 é impar sob vários aspectos, a começar pelo lançamento da revista Paca, Tatu.

    É nesta levada que germina a promoção de um 'Ciclo de Debate cultural', e que fez aportar por aqui, cabeças tão distintas do universo intelectual brasileiro. Osvaldo França Junior, Moacir Laterza, entre tantos outros, se reuniram para falar de literatura, audiovisual, Jornalismo e poesia mineira.

    Hoje, passados meio século, o Jornal Daqui rememora aquele encontro nas palavras de um de seus organizadores, o escritor Luiz Sérgio Soares, em parceria com Luiz Fernando Prados. Publicamos abaixo suas lembranças daquele singular evento. Segue também, lançando luzes sob o olhar atento de quem presenciou de perto este Ciclo de Debates, uma crônica assinada pelo escritor Edson Carlos.

    “Reunimos em São Gotardo durante quatro dias, em setembro de 1974, o que havia de melhor na literatura e no mundo cultural mineiro da época, sem patrocínio, mas com o apoio dos colégios e da sociedade. A participação dos estudantes e professores foi grande, com o amplo salão do clube cheio todos os dias e com bastante perguntas.

    Quem foram os organizadores? Eu e Luiz Fernando, que tocávamos o Clube Reunião, demos o pontapé inicial, contando com o Edson Carlos, o Antônio Sérgio Bueno e o Paulinho Assunção na frente cultural juntamente com Tarcísio Melo, Batistinha, Ápis e Julio Prados. Meu pai, Clarimundo Soares, já tinha nos cedido o Clube e emprestou um cômodo, onde funcionou a secretaria informal do evento. Tudo foi discutido e decidido coletivamente.

    Os palestrantes ficaram hospedados em diversas casas da cidade e um grupo deles ficou na Fazendinha dos Padres. Adão Ventura, poeta, ficou em nossa casa. Ele e Jaime Prado Gouveia tinham sido meus colegas de faculdade. Oswaldo França Junior ficou com o Zé Pessoa, que o surpreendeu, conforme relato do próprio doutor, retirando do sapato uma crônica do hóspede que estava dobrada e forrando o calçado.

    Todos eles tinham imensa divulgação e relevo na vida cultural mineira e alguns atingiram projeção nacional: Geraldo Malhaes, cineasta, Luiz Vilela, cronista premiado, Murilo Rubião, Oswaldo França Júnior.

    Surpreendente as palestras de Sérgio Maldonado, sobre a história da pintura, e a fala apaixonada e apaixonante do filósofo Moacir, Laterza, sobre arte e comunicação abordadas com seu saber enciclopédico.

    Houve uma feira de livros e conseguimos doações dos autores e das editoras para a Biblioteca Municipal.

    O ponto alto do evento foi a apresentação na Praça Olegário Maciel-Sagrados Corações, dos grupos folclóricos locais e da feira de artesanato. Nós tínhamos conseguido que o pároco revogasse a proibição do congado, devido à participação de casais que não tinham casado na igreja, e o Congado, o Trança-Fitas e os Catopé, vindos de diferentes pontos da cidade, entraram tocando e dançando na manhã ensolarada, o que deixou os escritores e intelectuais extasiados. Era a festa das culturas, o encontro da universidade com o saber popular, do local com o universal!”

    Luiz Sergio Soares e Luiz Fernando Prados

    “Eu morava em Brasília, estava envolvido com estudos de Linguística e leituras de revisão no MEC, além de lecionar – aquela luta de professor iniciante com filhos de 2 e 3 anos etc. Mas a Literatura envolvia a gente por todos os poros: tanto que emprestei os 7 volumes do Proust para o Ápis, e estava na mais completa proximidade com o Carlos Swan, a Odete, o Barão de Charlus e tantos mais que os anos vão escondendo nos esconsos da memória.

    De repente, vem o convite dos Luís Sérgio e Luís Fernando, e aí foi outra imersão sensacional: a bem da verdade, eu só conhecia 5 dos 19 participantes do Ciclo de Debates, um dos quais eu mesmo. Os outros o Sebastião Nunes, meu colega da Faculdade de Direito UFMG, o Moacir Laterza, meu professor de Filosofia no mosteiro dos dominicanos da Serra BH, o Luís Vilela devido a sua amizade com o Sérgio Bueno, e o Oswaldo França através de seu livro premiado 'Jorge, um brasileiro', contando as peripécias de um motorista viajando para a nova capital. E estes, e mais outros muitos em São Gotardo encontrando-se no Clube onde eu vivera momentos intensos dançando com as menininhas de 15 anos e jogando ping-pong.

    Agora era para conversar sobre literatura. Além de andar com esse pessoal pela rua Governador Valadares e ver os congados na Praça Olegário Maciel, depois de vencer a resistência do pároco sobre a vida privada dos festeiros! Muita emoção, né!

    Disso me lembro bem! Mas só após 50 anos consigo avaliar o arrojo daqueles jovens, que tiveram todo o mérito dos incríveis dias 26, 27, 28 e 29 de setembro de 1974, quando por baixo dos panos aconteciam muitas coisas deploráveis – e a gente mal sabia! Luís Fernando Prados, Luís Sérgio Soares, Ápis, Batistinha, Tarcísio Melo, Júlio Prados, Paulinho Assunção, que promoveram o Ciclo de Debates e certamente já projetavam uma revistinha célebre que viria poucos anos depois: a Paca-Tatu-Cotia não!”

    Edson Carlos

    Movimentos migratórios raramente ocorrem da noite para o dia; ainda assim, o ano de 1974 pode ser fixado como epicentro na cronologia da migração japonesa. Há exatos 50 anos chegava às terras do Confusão a primeira leva de colonos oriundos de São Paulo e Paraná. outros vieram depois, em anos seguintes.

    Simbolicamente, portanto, pode-se cravar 1974 como o ano da Migração japonesa em São Gotardo. Esta precisão se confirma historicamente por ser compreendida como desdobramento natural à publicação, no mês de setembro do ano anterior(1973), de um Decreto de desapropriação assinado pelo Governo Federal de uma extensa área do cerrado para implantação do Padap.

    Foi a partir deste documento que governo, nas três esferas de poder, e a extinta Cooperativa Agrícola de Cotia deram início ao processo de assentamento da área desapropriada.

    Entre as inúmeras camadas e pontos de interseção que se cruzam e se intercambiam no entorno do Programa de ocupação do cerrado, a migração de famílias nipobrasileiras, por si só já oferece farto material de análise e observação.

    Uma história que pode ser dividida em vários capítulos, prevalecendo em cada um deles como força modeladora o inusitado, o imprevisível; a começar pela escolha de São Gotardo como sede do Padap, e também a nova casa das dezenas de famílias de colonos japoneses que aqui aportaram com o propósito de levar à frente uma empreitada até então inédita em terras brasileiras: a exploração agrícola das terras virgens do cerrado.

    E assim, de capítulo em capítulo a épica saga foi se desenrolando em novos contornos, sem um fim à vista, passando de mão em mão, de pai para filho, e depois aos netos.

    A partir do primeiro contato, ocorrido meio século atrás, o lento processo de integração de culturas tão distintas se limitou, em certa medida, às relações de natureza econômica, centrada na produção agrícola, prestação de serviços, emprego e renda - evidente que repercutindo em outros campos, mas com menor intensidade. Aprendeu-se com o tempo a arte da convivência respeitosa e naturalmente, simbiótica.

    O tempo cuidou de pacificar e acomodar universos tão distintos, mas unidos por um propósito comum. Dada a distância continental entre as duas culturas, houve um choque inicial, mas que foi se arrefecendo graças à força propulsora que desencadeou nos anos seguintes uma notável reviravolta econômica aqui no município de São Gotardo. Neste aspecto o Padap, como pano de fundo, consolidou ao longo das últimas décadas o encontro definitivo entre dois povos.

    Os japoneses cultivam um forte vínculo às tradições de seu país de origem e sempre fizeram questão de perpetuar entre seus descendentes valores, modos e costumes, como forma de manter os traços de sua identidade única. Este desejo inerente em preservar as tradições, no entanto, nunca se mostrou obstáculo intransponível nas relações humanas de convivência por aqui; ao contrário: a simbiose tratou de acomodar e mesclar modos e costumes em uma espiral virtuosa que hoje, transcorridas cinco décadas, podemos afirmar que compartilhamos da mesma história.

    Se o tempo encarregou de assimilar as diferenças e misturar em um mesmo caldeirão caldo de culturas tão distintas, sobram sinais que evidenciam desdobramentos desta interação, e que vão além dos restaurantes de comida japonesa espalhados pela cidade, ou das relações de economia e trabalho nos campos de produção agrícola. Vários descendentes dos primeiros migrantes constituíram família com brasileiros, miscigenando novas gerações de descendentes. Outro sinal claro desta interação pode ser verificado no campo institucional, com especial destaque na gestão de cargos públicos, como a recente eleição de Makoto Sekita ao posto de prefeito do município (e antes dele, de seu irmão Seiji Sekita).

     

    Os primeiros migrantes

    Resta saber em que medida a interação entre duas culturas tão distantes no tempo e no espaço, se desdobrou em influência direta entre uma e outra. O que aprendemos com os japoneses e o que eles aprenderam conosco? Certamente algumas camadas são instransponíveis, outras nem tanto.

    No livro Portal do Cerrado, o autor explica que “na concepção japonesa de vida, há uma ideia de valorizar mais os meios, nem tanto os fins, como acontece na concepção ocidental. Na cultura oriental, predomina a ideia de que não é tão importante buscar o melhor, a nota 10, o primeiro lugar, mas que, fazendo-se da melhor maneira possível, pode-se chegar ao máximo”.

    Vemos na implantação do Padap, quando de seu início, um exemplo de resiliência e disciplina que confirmam à risca este ensinamento. Não se poderia imaginar um desdobramento como se deu. O importante era dar o máximo de si naquele momento de desafio. Esta é uma lição que temos certa dificuldade em aprender: sempre visamos um fim, uma nota máxima, que em boa parte das vezes se acomoda mais bem nas vestes de uma miragem.

    Os primeiros migrantes não faziam a mínima ideia, lá no ano de 1974, o que lhes aguardava; isso, sem levar em conta que estamos falando da primeira ocupação do cerrado em terras brasileiras.

    Luiz Sasaki, autor do livro citado acima, se formou no curso de agronomia em universidade do Parará e foi contratado pela Cooperativa de Cotia, chegando a São Gotardo em fevereiro de 1974. Ele faz parte do primeiro grupo de migrantes que ao longo daquele ano foram chegando e se instalando na nova colônia. Tamio Sekita, Horácio Muraoka, Naohito Tsugue, Hiroshi Takigami, Massato Sakuma, Koji Sato, José Okuyama, Paulo Shimada...; acompanhados de suas famílias, foram alguns dos primeiros produtores a se intalar aqui no município.

    Ao longo dos anos seguintes, até o início da década de 1980, o processo migratório foi se consolidando em seu formato definitivo com a ocupação e distribuição de todos os lotes do Padap. Até meados da década de 1980, a nova colônia já havia se estabelecido como comunidade autônoma. Os resultados positivos obtidos no campo naquela primeira década de experimentalismo e desafios, pavimentaram novos caminhos e novas perspectivas, e uma certeza: vieram para ficar.

    As limitações da área cultivável do Padap, já toda ocupada até o início da década de 1990, não representou esgotamento do processo produtivo, ao contrário, serviu de incentivo a novos desafios, com a implementação de novas tecnologias em um moto continuom que perdura até os dias de hoje.

    Por tudo isso há que se relembrar e comemorar neste ano de 2024 os 50 anos da migração japonesa. Cinco décadas de história que se inscreve na vida de milhares de famílias que compartilharam e compartilham, direta ou indiretamente desta consagrada saga chamada migração japonesa em São Gotardo.

     

         As fotos de arquivo publicadas nesta página foram gentilmente cedidas por Igor Sasaki, a quem prestamos nossos agradecimentos.     

    Processo de transição, resultado das eleições e formação de novo gabinete foram alguns dos temas abordados na coletiva de imprensa.

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