Um ano se acabou e outro está começando. Até aqui, não há nenhuma novidade. Sonhos e expectativas são construídos esperando novos e melhores ventos vindos de 2025 ao mesmo tempo que procuramos espantar frustações de 2024.
Como aconteceu em muitos lugares, em muitos lares e, infelizmente não aconteceu em muitos outros, mesas foram postas com diversos tipos de pratos rodeados por inúmeras pessoas que se confraternizaram.
Grandes assados, saladas, risotos, compotas de doces e antes que a fome apareça me faço entender.
Pensem nessa mesa como se fosse o volume de riqueza gerada em um país qualquer. Os convidados são os chamados agentes econômicos, indivíduos, empresas, governo, etc., todos eles com seus pratos na mão querendo seu quinhão desse jantar, ou seja, dessa riqueza.
Como é difícil imaginar que todos os convidados gostem dos mesmos pratos, vamos simplificar e monetizar todas as iguarias, ou seja, o leitão vale tantos reais, o risoto tantos reais, arroz mais um tanto, as saladas e doces outros tantos.
Começa o jantar e todos levantam seus pratos buscando suas porções. Aqui o grande problema começa. Não é possível imaginar que as preferências sejam as mesmas assim como não é possível imaginar que a fome também seja a mesma. Alguns querem mais carne, outros mais arroz, outros mais saladas e os diabéticos querem mais doces.
Em um jantar totalmente livre o resultado seria uma grande balbúrdia na qual todos avançariam sobre os pratos buscando suas partes e, com certeza, esse jantar não começaria e não terminaria muito bem e por causa disso vamos imaginar que haveria alguém disposto a organizar essa partilha que sentaria à cabeceira da mesa.
Dessa forma o jantar seria mais organizado e o anfitrião distribuiria as porções conforme a composição da mesa. É claro que ouviríamos ranger de dentes pois alguns convidados não concordariam com seus quinhões e passam a desejar mais.
Assim, mesmo com um anfitrião esse jantar não terminaria muito bem.
Não sei se ficou uma analogia muito clara, mas é exatamente isso que vem acontecendo desde o final do ano de 2024.
Após o governo federal anunciar um pacote de corte de gastos, o tão propalado “mercado” ficou insatisfeito. Queria uma porção maior em seu prato. Não ficou satisfeito em ouvir que mais alimento seria colocado no prato do trabalhador com a maior isenção do imposto de renda proposto pelo governo e, portanto, reagiu, tentando enfraquecer o anfitrião, o governo federal.
E reagiu através da manipulação da taxa de câmbio enfraquecendo nossa moeda, o real, diante de um Banco Central inerte que não fez o que deveria fazer que seria uma intervenção no mercado cambial.
O resultado disso foi que o dólar disparou atingindo valores acima dos R$6,00 e provocando enormes dificuldades para praticamente todos os setores da economia e principalmente para a classe trabalhadora.
Por sua vez, parte da imprensa começou a divulgar que o Brasil estava em crise gerando ainda mais medos e insegurança alimentando ainda mais a fogueira especulativa.
O fato é que não há crise. Há uma enorme insatisfação dessa entidade incorpórea chamada mercado em relação a seu quinhão nesse jantar. Querem mais e querem de uma forma ostensiva, gananciosa e tentam aprisionar o governo aos seus interesses.
Não existe crise em um país que cresce, que gera emprego, que gera renda. Existe, isso sim, um grande conflito distributivo no qual uma parte da sociedade busca de todas as maneiras aumentar as porções no seu prato.
Um conflito que mostra, infelizmente, o quanto essa elite financeira está desvinculada de uma visão de país e que poderia ser resumido a uma pequena frase: primeiro os meus, depois os teus.