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    Segunda, 17 Julho 2023 12:52

    Cultura do Alho - impactos econômicos e sociais em São Gotardo

    Escrito por José Eugênio Rocha
    Numa parceria da Globalfarm e Jornal Daqui, foi promovida uma mesa redonda para discutir aspectos econômicos, produção e impactos sociais da cultura do Alho em São Gotardo. Participaram do encontro o empresário Hugo Shimada, o presidente do Sindicato dos produtores, Rodolfo Molinari, Gabriela Bontempo e o engenheiro agrônomo Paulo Filho. Numa parceria da Globalfarm e Jornal Daqui, foi promovida uma mesa redonda para discutir aspectos econômicos, produção e impactos sociais da cultura do Alho em São Gotardo. Participaram do encontro o empresário Hugo Shimada, o presidente do Sindicato dos produtores, Rodolfo Molinari, Gabriela Bontempo e o engenheiro agrônomo Paulo Filho. Foto: Reprodução.

    O cultivo do alho teve início no final da década de 1990. Ao longo do tempo foi se firmando e se expandindo até alcançar o patamar de hoje, como a região que mais planta alho no país, destacando-se pela alta produtividade e qualidade acima da média.
    Vários fatores contribuíram para a escolha do Alho como opção de investimento por parte dos produtores. Destaque para o clima e altitude propícios, além do domínio tecnológico já praticado em outras culturas como a cenoura.

    Não foi um tiro no escuro: sempre houve por parte dos produtores o interesse em desenvolver atividades que agregassem mais valor e rentabilidade, plantando em áreas menores, mas com mais qualidade que em outras regiões.

    Outra razão pela escolha do Alho, foi a necessidade de diversificar o negócio, uma preocupação permanente como forma a evitar a dependência de uma única cultura. Hoje, complementa um leque já diversificado, que inclui a cenoura, beterraba, o abacate etc. Como destaca o produtor Hugo Shimada, um dos entrevistados nesta reportagem: “60% do alho consumido no Brasil é produzido no país, o restante é importado. Desses 60%, 30% sai de São Gotardo. É uma participação expressiva, se considerarmos que representa praticamente um terço do alho plantado no Brasil.”

    A empresa Globalfarm, que presta assessoria aos produtores nas áreas de gestão e consultoria de custos, é também especializada em levantamento e processamento de dados nos sistemas de produção da região de São Gotardo, e acompanha de perto estatísticas relacionadas à cultura do alho. De acordo com o último levantamento da empresa foram colhidas 45 mil toneladas em 2022, ocupando uma área de 3 mil hectares. São números reveladores e que impactam muito além do mercado consumidor brasileiro: hoje, o alho representa força propulsora da economia local por excelência, gerando renda, e acima de tudo postos de trabalho aos milhares.

    De acordo com o presidente do Sindicato dos produtores rurais de São Gotardo, Rodolfo Molinari, também entrevistado nesta reportagem exclusiva: “Do plantio, no final de fevereiro, março, até o final da colheita em setembro, são sete meses de duração. Além desse período, o produto colhido é levado para os barracões, e o trabalho continua... a produção de alho exige um cuidado todo especial, como alta tecnologia e investimento alto, então o produtor precisa estar muito envolvido”. Ou seja, podemos falar em um processo em escala industrial, que movimenta campo e cidade quase o ano todo.

    Por tudo isso, a importância e impactos positivos da produção de alho na economia local tem singular relevância, ademais, em um ambiente onde a inovação permeia cada capítulo destes 50 anos de Padap.

    A região de São Gotardo é hoje sinônimo de proficiência e pujança empresarial no setor agrícola, sendo reconhecida nacionalmente como berço de qualidade, alta tecnologia e produtividade. O alho é um bom exemplo desta distinção.

    Somando conhecimento a este encontro promovido em parceria do Jornal Daqui e a Globalfarm, um dos sócios fundadores da empresa, o engenheiro agrônomo Paulo Filho e a gerente de operações, Gabriela BonTempo. Um especial agradecimento ao empresário Fábio Castelhone, também sócio fundador da Globalfarm, e aos entrevistados Hugo Shimada, Rodolfo Molinari e Paulo Filho.

    Dada a complexidade e abrangência do tema 'Cultura do Alho', listamos por tópicos os temas abordados neste encontro. Confira:

    alho02

    Em junho teve início o período de colheita do Alho. Muito trabalho à vista?

    Rodolfo: Quando começa a safra, o trabalho não para. Tem serviço todos os dias pelos meses que se seguem. Diferente de outras culturas onde a colheita é intermitente, como a cenoura ou a batata. A colheita deve ser concluída até setembro, antes de iniciar o período chuvoso. Nesse período há uma grande oferta de trabalho, o que significa mais dinheiro circulando com o pagamento aos trabalhadores. Com mais oferta de trabalho, o trabalhador ganha mais.

    Hugo: Com o sistema de refrigeração e conservação do alho, adotado pelos produtores, a oferta de trabalho se mantém mesmo depois de terminada a colheita no campo, se estendendo por praticamente o ano todo. É uma das culturas que mais emprega, então a economia local gira muito em sua função.

    Rodolfo: Não podemos deixar de citar as outras culturas. A cenoura, como o leite, são 365 dias no ano. Tem o abacate, o café, que também geram emprego. Mas se considerarmos postos de trabalho por hectare, o alho é sem dúvida o que mais emprega, principalmente nos picos do plantio e da colheita.

    Impactos diretos e indiretos na economia local

    Além da grande oferta de postos de trabalho, há impactos diretos e indiretos em todos os setores da economia local, como construção civil, no comércio em geral, prestadores de serviços...

     

    Produtividade e retorno financeiro

    Hugo: Hoje a nossa região consegue um índice de produtividade de 20 toneladas por hectare plantado. No início eram de 13, 14 toneladas. O Alho só se tornou viável, portanto, devido a este aumento de produtividade.

    Rodolfo: É uma busca permanente pela eficiência no processo, ela não para.

    Paulo: Estamos colhendo 20 toneladas, e menos que isso torna a cultura inviável. Isso, mantendo os custos equilibrados, sem excesso. Ainda assim, a rentabilidade não ultrapassa 15 a 20% do valor investido.

     

    Reconhecimento do mercado

    Rodolfo: Produzimos o melhor alho do mundo aqui na região de São Gotardo. Nosso alho é produzido com alta tecnologia, em escala quase industrial.

    Hugo: Nosso alho se destaca em relação a outras regiões principalmente pela qualidade.

     

    O fato de ser um produto cobiçado no mercado interno, dada sua qualidade superior, há interesse no mercado externo?

    Hugo: Já existe um projeto inicial de exportação para a Europa principalmente.

    Rodolfo: Alguns países da América do sul são também possíveis mercados.

     

    De olho em futuros mercados, nossa região tem potencial de ampliar sua produção? Ou já chegamos a seu limite?

    Paulo: Há fatores limitantes como a rotação de culturas, o microclima, e a própria oferta de mão de obra. Acreditamos que pelo menos a médio prazo deve ser mantida a extensão de área plantada, que está em torno de três mil hectares. Mesmo levando em conta essa estabilidade no volume de produção, o alho hoje tem especial relevância em relação a outras culturas como a cenoura ou o abacate.

    O lucro não é tão sedutor, além de ser cultura muito exigente, tanto em relação ao valor do custo de produção e mais uma série de exigências como solo e tecnologia adequados. Diante disso tudo, são 3 mil hectares dedicados a cultura. Como explicar esse interesse do produtor pelo alho?

    Paulo: Até 4 anos atrás, o alho apresentava uma rentabilidade alta, mas ela foi caindo nos últimos anos. Além do mais, a cultura do alho demanda de uma grande estrutura física como investimento em pivôs, maquinário, barracões etc. Então, o produtor não tem muitas opções a não ser continuar plantando sob risco de prejuízo. Depois do investimento feito, fica difícil sair.

     

    Diante disso, que alternativas o produtor tem buscado diante desse cenário?

    Paulo: Melhorar a gestão, diminuir custos, e se possível aumentar a área plantada para diluir as despesas. O que atrai o interesse do produtor são também as condições favoráveis de altitude, clima e solo da região. Estas condições garantem um produto de excelente qualidade, o que significa garantia certa de mercado, além do valor agregado. O alho da região de São Gotardo tem preço superior em relação a outras regiões do Brasil.

    Hugo: Apesar de uma rentabilidade menor hoje, um dos fatores que incentiva a produção de alho é a estabilidade, não apresentando grandes oscilações no preço como em outras culturas, como a cenoura, por exemplo, que exige o plantio o ano inteiro para equilibrar a margem de lucro.

    Uniformidade na produção

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    Podemos afirmar que há uma uniformidade no produto final colhido na região, a ponto de ser identificado como uma marca. Que mecanismos facilitaram essa uniformidade?

    Hugo: O produtor entendeu que sozinho ele não alcançaria um bom resultado, por isso ele se organizou em grupos de produtores, uma espécie de condomínio de produtores rurais. Esta união de esforços facilitou o funcionamento da máquina produtiva. Assim, cada etapa do processo é distribuída entre os participantes do grupo. Meu concorrente não é o meu vizinho, ele é meu parceiro, tanto na divisão do processo como na troca de informações sobre novas técnicas e métodos que possam beneficiar um e outro, e todos ganham com esse modelo. Este fator é determinante para a uniformidade e consolidação de uma marca única.

    Rodolfo: Além de dominar um conhecimento, é preciso compartilhar, trocar experiências. Como disse Hugo Shimada, nosso concorrente não é o produtor vizinho, é o alho espanhol, o chinês, o argentino. Nosso caminho é unir forças, mesmo porque não temos condição de suprir o mercado nacional ainda.

     

    Alho: a cultura que mais gera postos de trabalho

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    Como ressalta Hugo Shimada: outra exigência do alho é a mão de obra disponível, nesse sentido, sem essa população que vem de fora, de trabalhadores migrantes, não seria possível levar à frente o plantio de alho. É fundamental frisar a empregabilidade que essa cultura oferece. Em média, cada hectare de alho plantado demanda 10 postos de trabalho. Ela exige muita mão de obra, e por essa razão é uma cultura com maior custo de produção, girando em torno de R$200 mil por hectare.

    Rodolfo: O alho é plantado dente por dente, tudo manualmente. Disparado, hoje o alho é a cultura que mais emprega, que oferta vagas de trabalho.

    Hugo: Hoje não existe nenhuma máquina que substitua o plantio manual.

    É uma mão de obra mais bem remunerada?

    Hugo: O trabalhador ganha por produtividade; quem se dedica mais, ganha mais.

    Rodolfo: O que ocorre é que nessa cultura a oferta de trabalho é maior, dando oportunidade para o trabalhador ter um maior rendimento.

    Hugo: É interessante notar que esse rendimento varia de pessoa para pessoa, e a escolha do tipo de tarefa conta muito: alguns rendem mais no corte que no plantio, e vice-versa. Desta maneira cada um vai se especializando naquilo que faz de melhor.

     

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