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    Quinta, 25 Maio 2023 22:27

    Você colhe o que planta

    Escrito por Edson Carlos

    Quando meu pai me ensinava “você colhe o que planta”, eu entendia mais ou menos ao pé da letra. Plantamos milho, dá milho; mandioca, dá mandioca. Simples assim. Para minha curta percepção de infância, bastava.

    Até o dia em que fui plantar mandioca e plantei a própria. Ele deu boas risadas. Mas aproveitou para me ensinar que a rama era a “semente” que produziria mandioca. Para o milho, era só escolher os melhores grãos. Aprendi que precisava “selecionar”. Boas sementes, bons frutos. O raciocínio amadureceu e se estendeu não só a outros grãos e raízes mas também a animais silvícolas, domésticos e humanos.

    Aprendi a aplicar a lição a assuntos mais abstratos, incluindo ditados como este: “quem semeia vento colhe tempestade”. Não é tão simples como semear milho, mandioca, alho e batata. Semear vento? Colher tempestade? Ao pé da letra? Sim, tem a ver uma coisa com outra: ventania vira tempestade; tempestade tem ventania. Dá para entender.

    Mas entenderemos melhor se considerarmos as palavras como linguagem figurada, maneira de dizer. “Tempestade” significa coisa ruim, raiva, ódio, e, no extremo, doença, guerra, morte. Alguém deseja isso? Em princípio, não! Pelo menos, as “chamadas” pessoas do bem. Mas ouvimos dizer que existem as do mal, que gostam de pancadaria e matança.

    Por exemplo: como classificar a pessoa que matou em abril 4 crianças em Santa Catarina? Pode-se dizer que é “do bem”? Difícil! Será “do mal”? Não é fácil responder. É possível – e até provável – que familiares, amigos ou partidários políticos não achem que ela seja “do mal”. Talvez tenha agindo em benefício da “pátria” e mesmo em nome de Deus. Porque, por incrível que pareça, há religiões que admitem “guerras santas” contra infiéis. E “passam pano” para sacrifícios de inocentes, porque uma bomba jogada de um avião mata também criancinhas no meio dos “inimigos”.

    Voltemos à lição de meu pai: colher o que planta. Estamos colhendo violências, atentados, assassinatos, ameaças de morte para 20 de abril. Como entender que jovens, de boas famílias “, se assumam como fãs de Hitler? O que pais, professores, redes sociais, tevês estão semeando em suas mentes e corações para colhermos tais frutos?

    Outro exemplo: é sabido que potências investem milhões em armas. São sementes. “Empresários da indústria bélica”, donos de CACs, os da bancada da bala têm interesse na mercadoria. Uma guerra é um bom mercado. Seriam eles “do mal”? E os funcionários dessas indústrias são do bem? Afinal, estão “simplesmente” trabalhando, ganhando seus salários para sustentar a família, educar os filhos e – por que não? – ajudar órfãos em obras de caridade. Um certo tipo de semente foi plantado em suas pessoas para aceitarem essa forma de ganhar a vida.

    Vamos concluir com o exemplo da dona Zuzita. Às vezes, jogando verde para os filhosnetosbisnetos que a rodeiam, todos querendo agradá-la, saber o que precisa, ou só olhando para ela como a “coisa” mais valiosa do mundo, diz baixinho: meu filho, estou precisando ir embora, dou muito trabalho para vocês! Ela colhe o maduro: trabalho, mãe? A senhora está colhendo o que plantou. E merece muito mais! Por isso peço a bênção da dona Zuzita para espalharmos boas sementes. Como ela fez ao criar os filhos, alfabetizar seus alunos e receber em casa os amigos dos filhos.

    E bênção, meu pai, que me ensinou!

     

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