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    Quinta, 23 Janeiro 2020 16:36

    A solução é filosófica: conheça-te a ti mesmo

    Escrito por Edson Carlos

    Duas garrafas de vinho na prateleira, uma com o nome x a 20 reais, e outra com o nome y a 90. Uma pessoa foi convidada a experimentar uma dose de cada garrafa. Lógico, ela gostou mais do vinho y, mais caro. Achou-o simplesmente divino, bebida de deuses. E, claro, desprezou o mais barato.

    Acontece que tudo foi uma armação de um pesquisador científico. No caso, psicólogos, que procuram conhecer a fundo a mente humana. O experimento foi lembrado pelo jornalista Hélio Schwartsman em artigo de 4.08.2013, publicado na Folha de São Paulo. O vinho de ambas as garrafas é o mesmíssimo, da mesma safra e da mesma uva, retirado do mesmo barril. A diferença está no rótulo, e o marqueteiro cientista simplesmente colocou nomes e preços diferentes. A incauta pessoa que serviu de cobaia concluiu que o de 90 reais era o bom.

    Caiu na esparrela? Sem dúvida. Vamos interpretar, na medida de um artigo como este, de curto espaço e para um leitor às vezes apressado.

    A pessoa foi manipulada por algo exterior a ela, no caso o rótulo. Ela viu, leu, acreditou nas aparências, o que, a princípio, é o normal. Nada de errado. É assim que todos fazemos. Mas é fácil perceber que ficamos no prejuízo – no caso, de 70 reais, que é a diferença entre 90 e 20.

    Aí mora o perigo e o problema a ser resolvido. A pessoa vítima da experiência acima representa todos nós, a humanidade. Ela foi vítima de sua própria inocência, da falta de senso crítico. E, ainda pior: da sua recusa em acreditar em si própria, nos seus sentidos, no seu paladar. Afinal, o vinho não mudou o gosto só por ter sido colocado em garrafas diferentes.

    Podemos chamá-la de idiota? Ignorante? Supor que seja uma criança, fácil de enganar, ou um jovem inexperiente, sem noção das maldades do mundo, ou um indivíduo maduro, mas ignorante, que está precisando voltar à escola ou matricular-se num curso do tipo EAD (Ensino à distância)?

    Sim. E a interpretação pode continuar. Esse experimento (do vinho) – tão simples, tão banal – ilumina todo o nosso sistema ocidental, moderno, de governança (aí incluindo as leis que fazemos, os executivos que elegemos para executá-las, os agentes da justiça que aceitamos para julgar se o fizeram da maneira legal e correta).

    Somos governados por rótulos, que é tudo que vemos, lemos, ouvimos – nas garrafas de vinho, nos jornais, nas telas de tevê ou celular. Vamos ao exemplo, que é uma boa forma de fazer entender. Pregam na testa de alguém: “corrupto”. É suficiente para o excluirmos,vinho de 20 reais. Noutra testa, rotulamos: “caçador de marajás”. Pronto: é vinho de 90 reais,suficiente para gostarmos dele, como aliás a população brasileira o fez em 1989 votando em Collor. Elee a mídia que o apoiou foram espertos: manipularam o eleitorado e conseguiram vender o vinho que queriam.

    Outro, espertíssimo, e certo da inclinação natural das pessoas em negar a si próprias e botar fé no que está fora, exterior, longe, coloca uma faixa em posição estratégica com os dizeres: “Deputado Tal, sempre junto com você. Feliz Natal”. Claro, ele está certo de que o eleitor acreditará, embora nunca tenha estado perto de nenhum morador da cidade, salvo alguns, os manipulantes.

    Voltando ao experimento do início. O psicólogo pesquisador pode colocar vinhos diferentes nas duas garrafas. Num, um realmente bom, mas com o preço de 20 reais. E outro, péssimo, de 90. E agora? Você vai pagar 90 por uma porcaria? Ou terá o bom senso de avaliar por si mesmo e comprar barato um vinho ótimo?

    Qual a saída? Existe há séculos – e é filosófica: conhecer-se a si mesmo. Assumir a sua pessoa, gostar de si, acreditar na sua capacidade, aperfeiçoá-la, levar o seu potencial ao máximo. Você terá, com certeza, um guia muito mais confiávelpara sua conduta
    (Artigo em homenagem à Jakeline Borges de Souza, filósofa).

     

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